31 de jan. de 2012

DOR DE PARTO E DE PARTIR


Minha filha mais velha, aos 17, voltou para São Paulo, onde cursará a faculdade.  Não há como não ficar mexida, estranhar o quarto vazio, o ninho grande, a mesa faltando um, o silêncio no ar. Não há como se enganar e deixar de ver o óbvio: os filhos crescem. Já repeti várias vezes por aí: educamos os filhos para o mundo. E assim fiz. Mas, agora que o mundo os chama, posso notar que a teoria na prática é mais complicada e difícil.
No dia em que ela viajou senti uma dor muito forte no corpo todo, parecida com a dor de parto, mas desta vez era dor do verbo partir. Por um lado, sentia orgulho do seu desenvolvimento e ousadia. Por outro, não continha o choro. Foi duro perceber que encerrava-se um ciclo, o qual eu estava achando rápido e intenso demais! Quando os filhos nascem, suas vidas estão literalmente em nossas mãos. E então vamos educando-os e os levando, paulatinamente, a assumirem suas vidas. E foi esta a sensação que tive: como se tivesse chegado a hora de passar o bastão. Mas já? Fiquei com esta inquietação em mim: Estaria na hora? Não seria cedo demais? Seria saudável amadurecer tão rápido! E impedir o amadurecimento?
Na TV passava um programa onde as crianças aos dez anos já eram emancipadas. Aliviei-me um pouco. Compartilhei com amigos e amigas minha angústia, mas fiquei ainda mais confusa. As mulheres ouviam e antecipavam o sofrimento em drama: “Meu dia chegará!” Os homens, em sua maioria, achavam tudo uma maravilha e uma oportunidade muito rica. Queria pensar como eles, mas não há como. Eles não conhecem a magia, a completude e a transformação do ser, para sempre, quando se gera um filho dentro de si. É uma relação muito amalgamada! Além disso, o filho sai da barriga, mas nunca mais sai da cabeça.
Voltava o pensamento à minha filha, que me disse antes de embarcar: “Não será fácil deixar tudo isso, mas estou com muita sede de amadurecimento!” Que vontade egoísta que me deu de colocá-la no colo e não soltar mais. Foi quando me dei conta do que eu fazia com meus alunos universitários e que agora ela era uma. A cada nova turma eu proporcionava vivências para que os alunos se percebessem sujeitos do conhecimento e autores da própria vida, assumindo-a com responsabilidade e autonomia entre outros tantos saberes. Ela também sabia disso, mas apreciar o voo do filho alheio parecia mais fácil! Até que ouvi de uma mãe cujo filho tem 40 anos: “Agora ele está bem mais independente e dono de si.” E pensei:  Que mania temos de achar que os filhos nunca crescem! Não, não seria este o meu desejo.
Voe minha filha, voe. Nem tão alto para não derreter as asas ao sol e nem tão baixo para não molhá-las ao mar. Voe minha filha e saiba que aqui tens um porto seguro para te apoiar, te orientar, te fortalecer, te dar descanso e te amar, por toda a vida. E, se sentir saudade, alegre-se: Sinal de que valeu a pena, que ficou com boas marcas e que foi bom demais. 



Uma dica? Dê uma boa base ao seu filho, viva intensamente cada momento, prepare-se e o prepare para voar. E, lembre-se: asas grudadas não voam. Deixemos, então, voar.



23 de dez. de 2011

46. FILHOsofar não tem fim.

Pessoas queridas,
A vida agitou-se e precisei dar uma parada no blog, mas não de FILHOsofar.
Para quem gosta do assunto, isto é, da Educação entre Pais e Filhos, você pode acompanhar discussões semelhantes na minha coluna semanal da Revista Pais & Filhos. Toda quarta tem novidade. Nela, o maior propósito é partir do cotidiano e dele extrair reflexões, discutir conhecimentos e trazer dicas e sugestões que colaboram com esta difícil e encantadora relação. Sugiro ainda, que cada leitor sinta-se a vontade para fazer com que a coluna seja dele também. Faça isso, leia, participe, deixe lá o seu palpite. E, quem sabe não nos aproximamos da "fórmula ideal" desta missão que é a educação dos filhos.

Entre no site da revista http://revistapaisefilhos.com.br/
Nele você encontrará uma aba SÓ NO SITE.
Clique nela e me encontre: Lígia Pacheco.


Aconselho que leia também os comentários dos outros leitores. São deliciosos e bem produtivos.

Espero-os por lá.
Grande abraço,
Lígia Pacheco

24 de nov. de 2011

45- COLUNISTA NA REVISTA PAIS & FILHOS

Olá a todos e a todas!
Aviso que agora além do blog você pode ter um pouco mais de educação entre pais e filhos em minha coluna na Revista Pais & Filhos. Nela, partirei de histórias do cotidiano para discutir conhecimentos, trazer dicas e sugestões que colaboram com esta tarefa tão importante.
No site da revista (www.revistapaisefilhos.com.br) acesse a aba “só no site” e lá me encontrará. A coluna é semanal e toda Quarta-feira haverá novidades. Você pode deixar seu recado, contar suas histórias, dúvidas, vitórias, enfim, compartilhar comigo e com os leitores o que achar que convém.
Conto com a sua participação.
Grande abraço,
Lígia Pacheco

23 de nov. de 2011

44- PASSOU OU REPETIU?

Chega o final do ano. Muitos pais e alunos ficam apreensivos: Passou ou vai repetir o ano? Claro que isto importa, mas há que tomar muito cuidado com o que está acontecendo. Vejo inúmeros pais oferecendo aos filhos presentes caríssimos caso eles passem de ano. E tantos outros, ameaçando os filhos caso repitam o ano. É preciso ficar claro para o seu filho o porquê ela vai à escola e para que ela serve.  E então, que seu filho tenha consciência, assim que possível, de que ele é o responsável primeiro pelo seu desenvolvimento.  Não basta ofertar o melhor, se o filho não sabe aproveitar e se não percebe que para aprender é preciso atenção e interação com o que aprende. Por isso, sou contra a barganha. Afinal, se a escola serve para que ele desenvolva, entre outras funções, é bom que ele perceba que ela é um privilégio em sua vida. Mas, se troco o boletim por presente, a sua meta será outra, isto é, o presente, e não as aprendizagens que o possibilitam ampliar a si e ao mundo. E, se seu filho não vai bem na escola e está prestes a repetir é preciso investigar o porque disto e não simplesmente puni-lo. Vamos supor que ele não goste de estudar. Se isto acontece é bem provável que ele não esteja vendo sentido naquilo tudo. Não se aprende por decreto, nem por imposição. E nem adianta dizer que se ele não estudar não será alguém na vida. Olhe em volta e verá que isto não é verdade. Converse com o seu filho, converse com a escola, ajude-o a perceber o quanto pode ser maravilhoso aprender, crescer e desenvolver.

16 de nov. de 2011

43- A ESCOLHA DA ESCOLA

Se o meio é tão essencial ao desenvolvimento de um filho, uma boa escola torna-se fundamental. Mas como escolhê-la? Já escolhi muitas escolas para as minhas filhas, por mudarmos muito de cidade. Minha filha mais velha acaba de terminar o 3º ano do Ensino Médio em sua 9ª escola. E, creia, temos grande preocupação em escolhê-las. É tão importante que ao chegar na nova cidade, a escola é escolhida antes da moradia, pois sabemos o quanto o trânsito desgasta qualquer ser humano. Além disso, há trabalhos em grupo, atividades extras curriculares, festas de amigos e a logística fica mais fácil quando se tem autonomia para ir e vir. Em cada idade, valorizávamos aspectos diferentes nas escolhas. Mas em todas as fases havia algo em comum: a escola tinha que ter espaço, ser afetiva, preocupada com a construção do ser e do conhecimento (e não a reprodução deles). Ter uma proposta pedagógica que afinasse com a nossa visão de homem e de mundo.  Mas, com o tempo fui percebendo que toda escola tem seus acertos e erros, e que a melhor delas é a própria família, inclusive para consertar erros cometidos pela escola. E, aprendi que de nada vale uma proposta maravilhosa, se o professor não for um encantador de alunos, e se não resignificar a sua prática diariamente. E que importante mesmo é que o filho seja feliz, sinta-se gente e possa compreender e transformar a si, aos outros e ao mundo com respeito, liberdade, autonomia e responsabilidade. Esta é a boa escola para as minhas filhas.

8 de nov. de 2011

42- MÃES DEBATEM A PADRONIZAÇÃO DA ESCOLA

Na página do facebook, uma mãe postou a pergunta curiosa do filho de 4 anos: “Quando o sonho acaba a gente desaparece?” E, questionou para a sua rede social: “Como será que os testes de avaliação padronizados avaliam essas falas tão ricas das crianças?” Uma mãe garante: “Esses testes tiram a possibilidade mínima de inclusão da criança. A padronização só ajudou minha filha a regredir, e muito.“ Outra mãe desabafa: “Meu filho não quer mais ir à escola. Reclama da rotina e está desmotivado.” Acredito que as contribuições prosseguiram. Mas, a fala destas mães já merece especial atenção. Falemos da padronização. Já percebemos que é na diversidade que encontramos as maiores riquezas, mas muitas escolas ainda insistem em formar, isto é, colocar na forma, os seus alunos. E ai de quem não se encaixar ou se moldar na forma pré-determinada! Fica rotulado, marcado, sem auto-estima, sem forma. E regride. Claro, que criança aguenta sentir-se excluída e não pertencente a um grupo? E, quando a criança nem quer mais pertencer a este grupo como tem acontecido ao menino desmotivado? Mas, o que a escola tem disponibilizado a ele? Um ambiente homogêneo, repetitivo e mecânico? Atenção escolas! O cérebro do aluno gosta de novidade, assim como os nossos. Surpreender o aluno e incluí-lo em seu processo de aprendizagem ajuda-o a ter e a manter um motivo-na-ação e a desejar ir à escola. Três crianças diferentes dão, de certa forma, o seu recado. Atentemo-nos a elas.

3 de nov. de 2011

41- TENTE OUTRA VEZ

Educar filhos não é tarefa fácil. É preciso muita persistência e determinação, concorda? E, mesmo quando as temos, nem sempre dá certo e até passa pela cabeça desistir, deixar para lá ou para mais tarde. E eis aí o perigo, pois quase tudo espera, mas o desenvolvimento do seu filho não. Com ou sem o seu consentimento, o seu filho crescerá, e potencializará aquilo que o meio e ele permitiram desenvolver. Se abro mão de educá-lo, alguém tomará a frente, o influenciará, e o educará. Se não educarmos os filhos, o mundo o fará. É bem comum ter vontade de chutar o pau da barraca e desistir. Principalmente se já foi tentado de tudo, e nada dá certo. Calma, você não está sozinho. Há muitos pais querendo desistir, como há os que assim já fizeram. Mas não vale a pena, o trabalho só se postergará e se tornará maior. Pare, acalme-se, respire fundo e visualize o seu foco, isto é, que tipo de filho quer e para que mundo. Há ainda uma boa caminhada. Mas não desanime, perceba os progressos, as vitórias e saiba que não se vence só por acertos. O erro faz parte da aprendizagem. Observe a sua vida e veja como o erro possibilita multiplicar habilidades, criatividade, jogo de cintura, autoconhecimento e desenvolvimento. Errar faz parte do processo humano. Isto vale também para quando aprendemos a ser pai e mãe. Por isso, não desista do seu filho. Errou? Aprenda com o erro, levante, sacuda a poeira, recomece e tente outra vez. Aproveite para ouvir Raul, que dá forças para continuar seguindo.

31 de out. de 2011

40- RESPEITO NA PRÁTICA.

Continuemos a falar de respeito entre pais e filhos. Primeiro é bom pensar: Vocês jogam no mesmo time ou são adversários? Vejo muitos jovens desperdiçando, com consciência, o dinheiro dos pais. Não seria interessante que percebessem que o dinheiro é de certa forma deles também? Observo ainda pais invadindo a privacidade do filho. Vasculham celular, computador, escutam conversas atrás da porta, mexem em suas coisas a procura de pistas que dizem de como seu filho se porta longe de seus olhos. Não seria mais efetivo o diálogo transparente? Não consegue? Pare e pense. Como é que você reage ao que ele lhe conta? Se você berra, ameaça ou fica horrorizado, terá grande chance de bloquear a comunicação. Mas, é preciso educar e pontuar o que vai bem e o que não vai. Assim, se cuidar do diálogo, com carinho e responsabilidade, não precisará bancar de detetive, pois seu filho trará as pistas, pois sabe que pode confiar em você, na sua escuta e orientação. Caso contrário, pode se preparar para as mentiras. Já fiz pesquisa sobre isto e é assustador notar como os filhos mentem aos pais. Vejo também filhos berrando, mandando e até batendo nos pais. Não permita isto e ensine o seu filho a reconhecer e a agradecer cada coisa que você faz. “Obrigado Mãe, por ter vindo me buscar na escola!” E, por fim, jamais diga: “Quando seu pai (ou mãe) chegar em casa você vai ver só!” Se faz isto, tira de si toda a autoridade e com ela, o respeito. Reveja suas ações. Pequenas mudanças podem surtir efeitos extraordinários. 

17 de out. de 2011

39- MEU FILHO NÃO ME RESPEITA!

Tem tido este problema? Você não é o único. Basta olhar em volta e verás o que tem acontecido. Em geral, quando não se respeita pai e mãe, não se respeita mais ninguém. É o que se observa em escolas, clubes, igrejas, shoppings, em espaços comuns. Ter respeito por si e pelos outros se aprende. Ninguém nasce sabendo isso. E se o seu filho não te respeita é porque assim ele aprendeu. Mas sempre há jeito. Veja algumas dicas.
* Respeite-se e se valorize. Só assim conseguirá ser respeitado.
* Respeite. Só assim poderá ser respeitado.
* Deixe claro e faça ajustes dos comportamentos do seu filho que não se alinham ao modo como você quer ser tratado. Mas faça isso com calma, persistência e sem medo. E é muito importante explicar à criança quais os princípios e/ou valores que estão por trás do comportamento desejado.
* Você é modelo do seu filho. Assim, fique atento também ao seu modo de agir. Seu filho aprende mais por suas ações do que por suas palavras. Como ele percebe o respeito que você tem pelo outro, por ele e por si próprio. É coerente com o que você diz?
* Reflita diariamente como você tem sido respeitado e como tem respeitado, para ir fazendo os ajustes necessários.
* E, não se consegue real respeito por decreto, chantagem ou vantagem. E nem de repente. Mas sim por aprendizagens provindas das experiências diárias. Invista sempre. Com consciência, respeito e paciência. Adianto: dá trabalho, mas vale!

13 de out. de 2011

38- DIA DAS CRIANÇAS, ATÉ QUANDO?


Ontem foi Dia das Crianças. Até quando esta data fará sentido? Olho em volta e vejo várias criaturas pequenas, e pouca infância. Muitas delas têm comportamento e preocupação de adulto. Têm agenda cheia, não suam para não estragar o cabelo, não fazem arte de criança para não arruinar a unha, a bolsa, o modelinho, e pensam fazer atividade física em frente a um computador. Falam de esmalte, caloria, “ficar”, drenagem, das últimas compras e novidades. São extremamente consumistas e ainda pequenas já começam a perceber o poder da sedução. Estou exagerando? Já tentou comprar sandália infantil sem salto? E são para seres que, entre outras, estão formando sua estrutura óssea! E roupa de criança para criança? Quem quer? E achar um bom programa de TV? Gosta do que seu filho vê? Basta observar as vitrines, as propagandas e programações infantis para notar que a própria sociedade ajuda a por fim na infância e em sua inocência, e ainda com o apoio entusiasta de muitos pais. Jogos de rua deram lugar a coreografias eróticas, e nem tememos o efeito bumerangue: O que retorna? Os desenhos animados foram substituídos por jogos eletrônicos. Vi um que dava bônus a quem matasse a grávida. Afinal, são duas vidas com uma munição e em menor tempo. Uau! Senti calafrios do ensinamento! Deixar ser criança é uma opção. Escolha aproveitar cada coisa a seu tempo. A criança agradece, além de evitar, mais tarde, ter um filho adulto que se porta, veste, fala, age como criança. Conhece algum? Acontece.