25 de jan. de 2018

209. TDAH: ENTENDER PARA MELHOR AGIR.

“Compreender a mente humana e o comportamento produzido, inclui considerar seu contexto social e cultural.” (Antonio Damásio) Ou seja, qualquer que seja o transtorno, não se pode analisá-lo de modo isolado, mas por uma multidimensionalidade que inclui a biologia e o meio. O TDAH, Transtorno de Déficit de Atenção e Hipertividade, é um transtorno de neurodesenvolvimento, essencialmente comportamental. Há três fatores neurobiológicos, especialmente ligados ao (1) processo de mielinização tardio e amadurecimento cerebral mais lento, (2) disfunção neuroquímica e (3) ineficiente integração entre os sistemas de antenção, que comprometem o bom funcionamento cerebral, deixando a criança com TDAH lenta para amadurecer e rápida para se distrair.
Isto irá comprometer e muito o desenvolvimento do Pré-frontal, área de grande importância para as nossas funções executivas, como a organização e planejamento da ação; motivação; memória; controle emocional; controle de movimentos, resolução de problemas entre outras. Ou seja é uma área extremamente importante para o dia a dia, seja na escola, no trabalho, na vida. Também o portador, acaba tendo problemas com o sistema de recompensa cerebral e por isso mais do que ninguém precisa de feedbacks positivos para se motivar a seguir adiante. Todavia, por ser “excessivo” no que faz, acaba levando muita bronca, é taxado de preguiçoso, desleixado, o que pode agravar ainda mais o quadro. Tais disfunções acarretam três sintomas cardinais à criança com o TDAH: (1) Desatenção (divagação em tarefas; falta de persistência; dificuldade de manter o foco; desorganização), (2) Hiperatividade (atividade motora excessiva, inquietude extrema) e (3) Impulsividade (ações precipitadas, desejo de recompensas imediatas, incapacidade de postergar gratificação). Todavia, um diagnóstico sério e preciso “depende de uma avaliação que integre os fatores biológicos aos ambientais, relacionados à dinâmica familiar e emocional.” (Dr Mauro Muszkat). Mas atenção! No mundo todo, há uma média de 5% de crianças com TDAH e 2,5% de adultos. Contudo, aqui no Brasil, o número é bem mais elevado, o que nos faz refletir se não há uma hiperdiagnosticação. Temo que muitas famílias troquem educação por Ritalina, como faz uma conhecida minha com o filho. “Ele fica ótimo, tão bonzinho!”, diz ela. E como sei também de muitos estudantes que a tem usado para potencializar as suas funções executivas. É bom cuidar, pois há contra-indicações. Assim, antes de medicar, tenha certeza do diagnóstico, procure uma equipe multidisciplinar, para não colocar em risco o desenvolvimento do seu filho. Na próxima coluna, tratarei das principais dificuldades de quem possui o TDAH e como podemos contribuir para ajudá-lo a vencê-las.

Até lá!


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11 de jan. de 2018

208. O MUNDO DA CRIANÇA AUTISTA E COMO AJUDÁ-LA.


Fotos cedidas pelo prof Casio Lucena
Todo ser possui potenciais a desenvolver e merece desenvolver-se integralmente. Já escrevi muito sobre isso nos posts anteriores. Mas como contribuir com as crianças com transtornos de neurodesenvolvimento cujo funcionamento mental tem características tão peculiares? Melhor caminho: conhecendo-as. Comecemos pelas crianças portadoras do TEA, Transtorno do Espectro Autista.
Há vários níveis deste transtorno, do leve ao severo, mas em geral, o portador do TEA tem o cérebro hiperexcitado. Ou seja, diferente da maioria, que a cada nova atividade desliga a anterior, o autista liga uma nova atividade sem desligar a outra. Assim, ao longo do dia ele vai fazendo centenas de atividades ao mesmo tempo. Para dar conta de tantos estímulos, ele se organiza com padrões restritos e repetitivos não só comportamentais, mas também de interesses e/ou atitudes marcados por acentuadas rotinas e rituais. Fácil entender o porquê possuem grande dificuldade em lidar com as mudanças ou excesso de estímulos, pois se desorganizam e entram em crise. Além disso, seu diferente desenvolvimento neurológico gera-lhe prejuízos na comunicação social, na interação social e reciprocidade sócio-emocional, o que é fácil supor que acarreta a ele grandes dificuldades para se adaptar a este mundo, que é pensado para outro tipo de funcionamento cerebral. Como podemos então favorecer-lhe desenvolvimentos sem que ele se desorganize?
Há várias atividades para ajudar a criança a aprender, a desenvolver suas tantas possibilidades na escola e na vida. Cito uma, a prática da capoeira, que favorece o desenvolvimento integral do portador de TEA. Esta prática traz movimentos corporais ritmados, acompanhados de uma música com repetições bem marcadas e tendo como principal instrumento, o berimbau, instrumento de uma corda só, que proporciona uma música interessante, rústica e sem grandes estímulos musicais. A prática ainda segue ritual e rotina bem definidos, com integração social leve e em roda, tendo no centro apenas dois integrantes, cujos movimentos não são tão desestruturantes, como pode ser em um jogo de equipes, como o futebol, com mais imprevistos que podem desorganizar a criança. Como vemos, a capoeira vai muito ao encontro das características das crianças com TEA e ao seu funcionamento e por isso, pode ser uma boa opção ao seu desenvolvimento integral.
Fotos cedidas pelo prof Casio Lucena
Conheci o professor Cássio Lucena, que trabalha, a prática da capoeira com crianças com o TEA e outros transtornos em Recife/PE há alguns anos, e que juntamente com o professor Daniel Pina, estão começando um projeto na academia Santè em Boa Viagem para a inclusão destas crianças no universo da atividade física. Vi um pouco mais de perto o seu trabalho e marcamos um bate-papo. A fala emocionada e emocionante do professor, ilustrada por vídeos das atividades e dos progressos dos alunos, deixava claro os seus benefícios, que logo o professor elencou. 
1. A cadência rítmica e a expressão corporal da capoeira permite o envolvimento do corpo do aluno como um todo, além de favorecer a integração com outros indivíduos, uma de suas grandes dificuldades. 2. Trabalha a autonomia da criança, a sua psicomotricidade não só pela coordenação dos movimentos corporais, como também ao tocarem os instrumentos como o berimbau, atabaque e o pandeiro, desenvolvendo ainda a musicalidade. 3. Também favorece a comunicação e a linguagem, outra grande dificuldade apresentada pelo transtorno, ao cantarem as músicas e  falarem sobre elas. 4. E conhecem uma nova prática cultural enquanto se desenvolvem e se integram.
Ou seja, o transtorno traz sim prejuízos, mas toda criança pode e tem o direito a desenvolver-se. E toda criança, independente de sua constituição, é um ser de possibilidades. Façamos o nosso melhor por elas.
Bravo, professores Cassio e Daniel e tantos outros que colaboram! Muito lindo, útil e iluminado este trabalho. Unamos forças por mais conhecimentos destes mundos tão únicos para agirmos a favor de suas tantas possibilidades.

No próximo post falaremos do TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Inscreva-se para receber por email. Acompanhe.


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3 de jan. de 2018

207. A CRIANÇA DIFERENTE.

Toda criança é diferente. Não há um ser igual ao outro, mas há coisas que nos assemelham, que dizem de nós humanos. A maioria de nós, engatinha, anda, corre, embora pareça que os filhos corram primeiro para então andar. A maioria, aprendeu a balbuciar, a articular palavras, a dar-lhes sentido, a criar sentidos, a falar, a pensar, a ler a escrever numa sequência sem fim, em que cada fase é base para as subsequentes. A criança de um ano não consegue expressar-se perfeitamente, pois nem tem aprendizagens suficientes de palavras com seus significados, como não tem sistema nervoso maduro para tal proesa. Tudo a seu tempo, pasito a pasito, para não perder o hit do momento! Este processo contínuo de constituição e construção do ser para além do plano motor e da linguagem aqui exemplificados,  deve-se, em especial, ao desenvolvimento do sistema nervoso, que recebe fortíssima influência do meio. Logo, é importante ressaltar que, quando a criança chega ao mundo, um mundo chegará a ela. E este mundo muito dirá de suas possibilidades, inclusive do desenvolvimento do sistema nervoso. E por isso, insisto: Que mundo ofereço à biologia de meu filho? Além disso, há crianças cujo desenvolvimento não se dá como na maioria e portanto, elas não podem “funcionar” da mesma forma. São crianças diferentes. E o melhor modo de agir com elas é conhecendo os seus transtornos e dificuldades para que nossa ação possa ir a favor de suas tantas e diferentes possibilidades. Neste mes de Janeiro, dedicarei-me a elas aqui no FILHOsofar, começando pelo TEA, Transtorno do Espectro Autista. Inscreva-se para receber por email e acompanhe. Feliz 2018 a nós!


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