26 de jun. de 2015

153: PAIS E FILHOS: ASSISTAM E SE INSPIREM.


Território do brincar é um longa, no mínimo, poético, dirigido por David Reeks e Renata Meirelles. Trata do brincar infantil em diferentes regiões e realidades do Brasil. O longa conseguiu me colocar dentro da tela, arrepiou os meus vários sentidos, me fez sentir, deliciar-me e fomentar reflexões. O modo como as crianças brincam no filme dizem da escola dos meus sonhos. Na realidade delas, seja em dunas, mares, florestas, cidades, as crianças desenvolvem brinquedos e brincadeiras que trazem em si valiosos conhecimentos culturais e interdisciplinares. Aprendem e desenvolvem matemática, química, física, biologia, história, geografia, linguística, psicomotricidade, sociologia, cidadania, criatividade, imaginação na experiência. E nela já fazem os ajustes necessários enquanto, sem nem perceberem,  aprendem e se desenvolvem. Seria um sonho se a escola aproveitasse dessa experiência para ampliar o mundo das crianças. Interessante notar que as crianças com menos recursos desenvolvem bem mais habilidades e competências do que as crianças com mais recursos, que já trazem na maioria brinquedos prontos. E como subestimamos as crianças e atrapalhamos seus desenvolvimentos limitando suas brincadeiras em prol de uma organização de tempo e espaço, da super proteção, da facilidade tecnológica, do consumo exagerado de brinquedos entre outros, dificultando com que encontrem o brincar no dia a dia e se desenvolvam integralmente. Leve seu filho para assistir esse filme. Façam dele uma grande inspiração para as férias e para a vida.

17 de jun. de 2015

152. PARA GABI EM SEUS 21 ANOS.


Quando fiz 21 anos meu pai lançou-me um enigma como sempre gostava de fazer. E, como sempre, eu passava horas, dias ou até anos até sossegar com uma boa resposta. E nesse dia não foi diferente. Ele disse: “Parabéns, minha filha! Agora já é dona do seu nariz.” Fez uma pausa e continuou: “Mas lembre-se: não é dona dos buracos que nele há.” A expressão “ser dona do nariz” era-me familiar. Ser independente, livre, responsável por meus atos eu já vinha sendo ao morar sozinha, experiência muito importante à minha formação. Mas, o que significava não ser dona dos buracos do nariz? Já modifiquei alguns vezes essa resposta, mas hoje eu diria que ser dona de si não significa fazer o que se quer, nem quando, onde e por que se quer, pois há os buracos. Os buracos hoje simbolizam tudo o que não sou eu, mas que eu interajo de certa forma. Lembram-me que vivo no mundo, com o mundo e com os outros, e que devo ter uma contribuição responsável com os seres e ambientes, ciente de que esses “buracos” são também ocupados por outros. Que por eles coisas boas e ruins podem ser “respiradas” e por isso que é fundamental saber onde coloco o meu nariz. Mas que é graças ao que não me pertence, o buraco, que posso oxigenar, movimentar e dar vida à vida. Parabéns, minha filha! Há 21 anos vivo a delícia de ser mãe e de tê-la como filha. É um encanto e um presente participar e notar o quão brilhantemente constrói a sua vida e o seu ser com tanta consciência de seu nariz com seus buracos. Viva! Bravo!

11 de jun. de 2015

151. À MODA ANTIGA


Recebi um cartão de minha filha que está na Austrália, e que aproveitou para viajar ao Cambodja, Laos e Tailândia. De volta à cidade onde mora pôs-se a enviar os postais que havia comprado. “Gosto da delicadeza e do carinho implícito ao colocar um cartão no correio.”, revelou-me, enquanto eu a agradecia. Claro que recebo muitas mensagens instantâneas dela por whatsapp, facebook, email. E amo todas. Mas receber um cartão pelo correio levou-me ao céu e chegou com muito mais sabor. Por trás dele havia o tempo gasto na escolha do cartão, a escrita pensada, o local escolhido para se inspirar, a ida ao correio, a compra do selo, o preenchimento do envelope... Um cartão que levou dias e dias para chegar, atravessou o oceano, percorreu quilômetros, passou por diversas situações. Senti como se todo esse processo apurasse o sabor do alimento que trazia. Voltei no tempo. Como era bom aguardar o carteiro, esperar por cartas, respondê-las. Claro que a tecnologia nos possibilitou ter ainda mais contatos e é incrível poder trocar mensagens em tempo real independente da distância e do tempo. Mas, assim como o fastfood, não têm o mesmo sabor. Não... não abro mão da tecnologia que é prática e eficiente. Mas saber saborear esses prazeres simples é algo que tem me valido a atenção, o exercício e a prática. Obrigada Gabi por esse momento tão especial que me proporcionou. Obrigada por todo o processo, pela imagem tão significativa, pelo conteúdo tão emocionante e por suas digitais por todo ele. Fez sua mãe prá lá de feliz. Te amo.

3 de jun. de 2015

150. DESCONECTAR PARA CONECTAR.

Visita na casa de alguma avó.
Esses dias recebemos uma mensagem de nossa filha que está há quase um ano na Austrália: “Por aqui está tudo bem, não se preocupem. Mas, vou fazer uma experiência e ficar três dias sem o celular.” Perguntei o motivo e obtive como resposta: “Mãe, eu quero perceber o que estou perdendo ao meu redor enquanto fico conectada ao mundo.” Achei brilhante a sua ideia e visão, mas queria me certificar se havia algum outro motivo. Coisas de mãe. Imediatamente conectei o facetime para me abastecer, acalmar, vê-la e saber mais. Pausa. Viva sim esta tecnologia que tem muitos benefícios. Mas,  encaremos de frente. Estamos viciados nela. E isso tem atrapalhado também a relação entre pais e filhos. Um exemplo? Observe qualquer lugar onde haja família “unida”. Restaurante, shoppings, festas. Em geral, cada um está no seu mundo. E Gabi tem razão: estamos tão plugados que mal percebemos o que e quem está ao nosso redor. Quando saímos em família, em geral, nossas filhas pedem para não levarmos os celulares. Não é maravilhoso? Sinal de que gostam e priorizam a nossa presença e gostam de conversar conosco. Mas isso não é sorte ou surgiu do nada. Investimos para tanto. E é esse desafio que quero propor: desconectar-se um pouco do mundo que está nas mãos para se conectar, sem distração, com a família. Relação entre pais e filhos se aprende e requer atenção, intenção, continuidade, espaço, diálogo, carinho, respeito, prazer, confiança, troca, tempo entre outras construções. Não se dá por um acaso. Atente ao seu redor e não perca a principal conexão.