21 de out. de 2015

169. PARA A BOA EDUCAÇÃO DOS FILHOS BASTA UMA BOA ESCOLA?

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Um pai de duas crianças pequenas perguntou-me qual escola eu indicaria aos seus filhos. Com menos de cinco minutos descobri que para ele bastava uma boa escola para que os seus filhos fossem bem educados. Será? Está cada vez mais comum este discurso e é lamentável, pois a escola tem sim um grande papel na educação de nossos filhos, mas é na família que eles darão início à construção de sua identidade e personalidade e onde terão uma importante base ao desenvolvimento cognitivo, sócio-afetivo e psicomotor, que fará toda a diferença para o seu progresso na escola. Mas alguns pais reclamam: “Eu não sei educar, nem tenho tempo e nem paciência!” Entretanto, por melhor que seja a escola e por mais preparados que sejam os seus profissionais, ela não conseguirá suprir a carência da ausência familiar. Além disso, se a família não consegue dar conta de um, dois, três filhos, porque a escola conseguiria com seus tantos e tantos alunos? Importante ainda ressaltar que aluno tem um fim na escola, mas filho é para sempre. A escola tem sim o seu papel e que é diferente do papel da família. Mas são papéis complementares e por isso se fala tanto em parceria escola-família. Todavia, muitos pais têm delegado os seus filhos à escola, o que é uma medida perigosa com consequências graves. Não sabe educar? Ninguém nasceu sabendo. Informe-se. Há cursos, blogs, livros para isso. Não tem paciência? Aproveite para desenvolvê-la. Não tem tempo? Reflita sobre a sua agenda. Seus filhos agradecerão. E toda a sociedade também.

14 de out. de 2015

168. INFANTILIZAÇÃO EXAGERADA



Uma das maiores reclamações das corporações é a infantilidade de seus colaboradores. E é verdade, basta observar. E é duro dizer isso, mas isto é consequência da educação que estes jovens ou adultos receberam ou ainda recebem. Nós, pais, tendemos a proteger os filhos em exagero. E fazemos de tudo por eles acreditando ser este o melhor a fazer. Mas, sem perceber, estamos desprotegendo-os, infantilizando-os e os criando para um mundo irreal. Contava-me uma amiga advogada que tem uma estagiária de 23 anos que é descompromissada, falta muito, não tem responsabilidade, pro-atividade e há que se rever tudo o que ela faz. Perguntei-a: “Mas por que a contrataram?” Respondeu: “Era a melhor das candidatas.” Mas o que me deixou mais impressionada foi o fato da mãe da estagiária ligar para a chefe da filha avisando e justificando as suas faltas. Uma mulher de 23 anos já deveria estar assumindo a própria vida, não? Mas para isto é preciso começar desde cedo, pois tal desenvolvimento é processual. Arrumar os brinquedos, organizar as suas coisas, fazer a própria mochila da escola, cuidar de suas tarefas, colaborar com as coisas da casa, fazer o seu prato, assumir os seus atos... tudo isso colabora para que a criança vá percebendo que tem responsabilidade sobre a própria vida. Às vezes dá a maior pena dos filhos, mas percebi na experiência que para bem educar é preciso muitas vezes “tirar” o coração da linha de frente. Pois se poupar o filho terá um adulto infantilizado. E isto não é nada saudável, além de ser ruim para ele, para você e para a sociedade. 

2 de out. de 2015

167. PARA CAMILA EM SEU TÚNEL DO TEMPO


Há 19 anos, no dia 1º de Outubro eu estava inquieta. Deitei-me num banco ao ar livre com uma imensa barriga e fiquei a olhar a lua que estava cheia como nunca vi igual. Na manhã seguinte, dia 2, a caminho da hidroginástica notei que a bolsa havia estourado. Era você querendo nascer e logo seus olhos azuis estavam a me fitar. E nestes 19 anos quanta história boa de contar! Você parece ter nascido arteira, moleca, independente, criativa, engraçada, justa, carinhosa, beijoqueira e com personalidade forte. Ficava horas concentrada com seus brinquedos e atividades desafiando as pesquisas sobre a primeira infância. Aos 3 meses tomou o primeiro banho de mar com grande alegria. Aos 9 meses disse: “Mamã”. Ufa! Aos 10 meses deu os primeiros passos e arrastava cadeiras por todos os lugares. Com um ano entrou na escola e se virava muito bem apesar dos colegas serem um ano mais velhos. Em seu primeiro ano amava puxar o rolo de papel higiênico e sair por toda a casa. E quando me via, e sabendo estar errada, pegava a pontinha do papel e assoava o nariz. Que figurinha!  Aos 2 anos, pedi que chamasse o elevador para adiantar. Foi até ele e gritou: “Elevadorrrr!!!” Lição preciosa a mim. Na mesma época pulou na piscina funda argumentando que sabia nadar. Afundou, engoliu água, tentou sair até que a resgatei. Arregalou os olhos, cuspiu parte da água engolida e me disse: “Não falei que eu sabia nadar!” Ai ai! Logo começou a contar mais do que dez e percebeu algo fantástico. “Dez e seis, dez e sete, dez e oito, dez e nove, dez e dez!” Viva a lógica infantil! Aos 3 anos inventou uma mãe. Maria Chiquinha deixava comer doces a toda hora, dormir a qualquer hora e fazer tudo o que eu não deixava. Um dia, desafiando-me disse que preferia morar com ela. Eu já estava cansada e enciumada desta mãe. Pedi que arrumasse suas coisas, pegamos o carro e você foi me orientando. Rodamos, rodamos, rodamos até que me pediu para parar e disse: “Mãe, a Maria Chiquinha engoliu uma espinha de peixe e morreu. Vamos voltar prá casa?” Aos 4, ao sair para o trabalho você me chamou e disse: “Mãe, não se deslembra que eu te amo, viu?” Aos 5, disse-me: “Mãe, você pode me disciplinar, mas eu não concordo, porque você não está respeitando as diferenças.” Pode? Com a mesma idade já amarrava seus sapatos, comia e tomava banho sozinha, andava de bicicleta sem rodinhas e aprendeu a ler e a escrever, mas sempre gostou de objetividade. Lembro de uma história que deveria ser escrita em 20 linhas. Deu seu jeito. Na primeira linha colocou o príncipe e a princesa se encontrando, casando, tendo filhos e nas demais 19 linhas escreveu um prolongado viveram felizes para sempre. Aos 6, simularam uma votação na escola para presidente, pois o país vivia esta escolha. Indagou-me: “Por que não conheço os candidatos?” E eu retruquei: “Não os conhece?” Você citou o nome de todos, mas disse que não conhecia a proposta e que o voto deveria ser consciente. Que maravilha! Aos 7, chegando na escola para buscá-la recebi os parabéns de uma mãe. Logo descobri que você havia ganho uma olimpíada de Matemática e eu nem sabia que você havia se inscrito. Esta é você. Faz as coisas para si, para o seu prazer e desenvolvimento e não para se autopromover ou receber elogios.  Como me ensina! Aos 8 voltou da escola indignada com uma injustiça feita a um colega. Lutou bravamente por ele. Aos 9 fez biscoitos e os vendou pelo prédio para pagar um picolé que havia comprado fiado. E entrou no time de futebol, mesmo sendo a única menina. Aos 10, empenhou-se firmemente nas artes e por um bom tempo se dedicou a ela. Aos 11 passou o aniversário internada sem perder o brilho e sem se lamentar. Aos 12 concluiu que o par ou ímpar não tinham as mesmas chances, e que pedir par era vantajoso, pois ímpar com ímpar dá par, par com par dá par e apenas par com ímpar dá ímpar. Bonito vê-la questionando o que lhe era apresentado como verdade. Aos 13 ganhou troféu por estar entre as melhores alunas da escola. Aos 14 fez uma linda apresentação teatral, mesmo não ganhando o papel que queria. Aos 15 foi para o Canadá e lá brilhou. E a pedidos da coordenação do programa ficou por mais 6 meses. Aos 17 passou na faculdade e foi morar sozinha, assumindo todas as tarefas. Aos 18 tirou carta, trabalha, estuda, namora, faz atividades físicas. Bravo! Aqui estão alguns flashes de sua vida apenas para dizer: Que orgulho de você! Chorou, sorriu, amou, errou, acertou, brincou, machucou-se, mostrando em tudo o que fez e faz a sua maturidade, cuidado, afeto, inteligência, compromisso, dedicação, determinação, justiça, autonomia, responsabilidade e muita sabedoria. Sou sua fã, Camila. Parabéns pela vida tão linda que tem construído. Muito feliz pelos frutos que temos colhido. Continue lindamente a sua história.
Com imenso amor,