28 de jan. de 2014

91. A VOZ E A VEZ DOS FILHOS


O post que segue foi escrito por Gabriela Pacheco (19 anos) e Camila Pacheco (17 anos), minhas filhas. Contam uma experiência que tiveram nesta semana. Ouvir os filhos é muito bom! Ajuda a conhece-los, a identificar ‘o que’ e ‘como’ está o que ensinamos, a avaliarmos a educação dada para, se necessário, fazer os ajustes necessários. Ouvir os filhos é muito bom e necessário. Com a palavra... Gabi e Camila.

TRABALHO VOLUNTÁRIO
Era uma manhã de sábado diferente. Estávamos a caminho de uma nova experiência: realizar o sonho de uma comunidade carente. Nos juntamos a um projeto chamado “Guerreiros sem Armas”, que engloba 60 pessoas escolhidas no mundo inteiro para juntas identificarem e realizarem o sonho de uma comunidade. O processo não é fácil, eles ficam durante um mês morando próximo a comunidade e, durante esse tempo, devem ouvir da comunidade qual o maior sonho deles. Para definir esse sonho, esses guerreiros passam por várias etapas, começando ao observar a comunidade, depois entrosar, ouvir histórias, até chegar em um consenso final de um sonho. Após essas fases, é construída uma maquete que permite que todos visualizem como ficará o sonho. Depois disso, é chegada a hora do milagre: em 4 dias, o sonho deve ser realizado. E foi desse fase que participamos! Vale mencionar que o principal objetivo desse projeto era mostrar para a própria comunidade que eles tinham todos os recursos necessários, e que só precisavam se mobilizar e se organizar para construir esse e tantos outros sonhos. Sendo assim, todos os recursos deveriam vir da própria comunidade.
Estávamos a caminho sabendo que precisávamos estar dispostas a fazer o que fosse preciso pra tornar o sonho real. A comunidade, conhecida como “Caminho da União”, fica em Santos-SP. Chegando lá, nos unimos aos “Guerreiros” e discutimos o sonho da comunidade: construir um Centro Cultural. Começou então, a parte do planejamento: fomos todos divididos em 4 grupos, dentre eles, o primeiro era responsável pela construção estrutural do Centro Cultural; o segundo, tinha como função construir o mobiliário interno; o terceiro, ficou com a tarefa de fazer uma horta; e o quarto, deveria criar e construir algum produto que gerasse renda para a comunidade e que eles pudessem produzir e vender a partir de então. Escolhemos o grupo do mobiliário, e ali começamos a colocar a mão na massa!
O dia foi intenso, debaixo do sol e rodeadas de  crianças que se dispunham a ajudar. Começamos arrecadando garrafas PET, caixas, tintas, pincéis, estofados, tecidos, e com muita energia para ajudar! E então a lavar garrafa PET daqui, pintar caixote de lá, enquanto os outros grupos faziam a fundação, iam atrás de madeira, plantavam, arrecadavam outros materiais. Enfim, foi um dia rico de experiências, de trocas, de sorrisos, de suor, de trabalho, de risadas, de realizações! A todo momento éramos rodeadas de crianças, que grudavam nos nosso braços, e era o dia inteiro “tia” pra cá, “tia” pra lá. Pouco tempo depois de nos conhecermos, já estavam nos nossos colos, fazendo carinho, mexendo no cabelo, ajudando a pintar e faziam daquilo uma diversão. No final da tarde, resolvemos dar um passeio comunidade a dentro. Carregando crianças no colo, que nos mostravam o caminho, saímos pelas ruelas, conhecendo de tudo. E foi impactante! Por um lado, crianças na rua dançando, brincando, se divertindo, adultos sentados conversando, ouvindo música, jogando baralho. Por outro lado, faltava saneamento básico, faltava estrutura, faltava parede, faltava chão, faltava educação, faltava limpeza, faltavam condições para se viver como seres humanos.
O sol já se punha, era chegada a hora de partir. Havia mais 3 dias de construção pela frente, mas nós só participaríamos do primeiro. Estava na hora de nos despedirmos. Abraçamos as crianças, que nos agradeciam, que ainda riam, e muito se divertiam. Olhamos para trás e nos demos conta da realidade que estava ali. Voltamos então pra casa, conversando sobre tudo o que havíamos vivido naquele dia. De fato, a grande mudança tinha acontecido dentro de nós. Tudo aquilo tinha mexido muito conosco, nos deu uma visão de mundo diferente. Por outro lado, sabíamos que a comunidade já não era mais a mesma: agora, mais do que nunca, se deram conta de que podiam sonhar. Pela primeira vez, talvez, eles se viam na posição de doadores, ajudantes, fornecendo o material necessário para a construção de um sonho. Sonhar era possível!

23 de jan. de 2014

90. NÃO É BOM CONTAR COM MILAGRES: PROTEJA A SUA FAMILIA.

Vilma e João Pedro. (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Ao assistir ontem este vídeo (link abaixo) no Jornal Nacional fiquei boquiaberta. Voltei o filme algumas vezes para ver se o que eu tinha visto era mesmo o que eu tinha visto. Montagem? Não, é Jornal Nacional! Milagre? Sorte? Alto poder de resiliência?  
Trata-se de um atropelamento de uma avó (Vilma Theodoro do Nascimento, 56 anos) com o seu neto (João Pedro Nascimento, 5 anos) em Anápolis-GO. Ela tinha acabado de pegá-lo na creche. O filme é forte, mas saiba que, incrivelmente, os dois passam bem, tiveram apenas escoriações leves e já estão em casa.
Em depoimento, o menino disse que levantou rápido porque ficou preocupado com a avó. “Eu achei que ela tinha quebrado a coluna e mais algumas coisas”. Que lindo! E o motorista Henrique Araújo justificou-se dizendo: “Na hora, não prestei atenção, mas acredito que não estava correndo”. Hum...
Bom que esteja tudo bem, mas podemos aproveitar a cena e levantar alguns pontos para melhorarmos a segurança da familia.
1. Avó e neto andavam erroneamente pela rua ao invés da calçada, e ela vinha distraída com a bolsa. Ao andarmos por aí temos que estar antenados a tudo e a todos para identificar problemas e decidir rapidamente. Atenção é tudo, e o cérebro só registra uma coisa por vez. Ou bolsa, ou celular, ou filho, ou vitrine ou  contexto...
2. A avó andava pelo lado da rua e o menino pelo lado da calçada. Certo. Sempre é bom colocar o menor em lugar mais protegido.
3. Em geral, situações de risco são rápidas e agimos muito por reflexo, que nem sempre é bom. Sugiro criar condicionamentos com a familia toda para momentos em que não há tempo ou equilíbrio emocional para decidir. Simule situações que você acha importante como incêndio, sequestro, ligar para emergência, e repita a ação várias vezes. Melhor deixar pronto e engatilhado o que tem que fazer se tiver que fazer sem pensar.
4. O menino mesmo embaixo do carro levanta a cabeça em busca da avó. É sempre bom ensinar os filhos a saberem cuidar de si, mas sempre de olho nos outros também. Cuidar e ser cuidado.
5. Ambos os corpos parecem de certa forma relaxados, como se acompanhassem o movimento do carro. Isso parece que ajuda bem em toda e qualquer situação de risco. Resistir, se desesperar, contrair, avançar entre outras atitudes deixam o corpo rígido, como podem criar tensões que compliquem o desfecho.
6. Claro que a adrenalina ajudou, mas o menino levanta rápido, corre para a avó e a analisa preocupado. Mostra que apesar da pouca idade tem uma atitude muito madura. Posso apostar que ele não é mimado e tem muitas experiências em que exercita atitudes assim. Isto é uma grande dica.
7. E, por mais que estajamos certos no que quer que estejamos fazendo, não confiar que a ação do outro vai ser correta é uma boa estratégia de proteção. Neste caso, não há sinalizações na rua, a calçada está ruim e o motorista nem lembra se estava correndo.
Mas também, vivamos sem neuras. Viver é um delicioso risco. Todavia, riscos calculados ampliam as chances de vida. Viva!
Assista ao video:

17 de jan. de 2014

89. FAÇA DO SEU ANO UM BELO JARDIM.


No ultimo dia do ano passado ganhei uma agenda linda de uma amiga com diversas fotografias dos jardins de Claude Monet, inspiração para diversas de suas obras. Duas paixões, a pintura e a jardinagem, alimentando-se, alimentando-o, nutrindo-nos. Lindo de sentir e in-corporar!
Na primeira página a dedicatória: “Que cada um dos seus dias no próximo ano sejam belos e exuberantes como estes jardins.” Passeei pela agenda. Ao lado esquerdo, uma foto por semana, maravilhosa e tranquila. Ao lado direito, a semana, de segunda a domingo, e pequeno comentário sobre a imagem. Logo pensei: “Que assim seja! Dias como estes jardins!”
Após um forte abraço, a amiga complementou: “Quando o lado direito da agenda não estiver do agrado, olhe para o jardim.”
Minha caçula logo interferiu: “Mas o lado direito pode refletir o jardim. Tomara que as imagens reflitam o seu dia”. E a mais velha completou: “Que seus dias sejam tão lindos quanto estes jardins!”
Que lindo! Sim, cada um dos meus dias dependerá em boa parte de mim. Como um jardim. Posso deixar que ele aconteça por si só, deixando o mato crescer e o que aparecer. Ou construí-lo. Elencar prioridades e metas. Cuidar de cada parte, mesmo sabendo que não se há total controle. Chuvas, geadas, sol muito quente podem comprometer. Ter atenção às pragas, aos nutrientes, à luz e à ambientação. Saber podar, arrancar folhas mortas, contemplar e dar correção. Dedicar, persistir, surpreender, ousar, por um jardim que possa lindamente espelhar cada um destes dias. 

6 de jan. de 2014

88. CONTEMPLAR A CONQUISTA DOS FILHOS: NÃO TEM PREÇO.


Foto de Nelson Antoine/ Fotoarena
Andar, falar, pular, desenhar, pedalar, nadar, escrever, ler, pensar, contar, somar, multiplicar, brincar... É muito prazeroso acompanhar os filhos conquistando sonhos e desenvolvimentos. Seja qual for a fase e a conquista não há como não nos orgulharmos independente do resultado. Sempre acho o processo o mais bonito de se contemplar, isto é, de fixar o olhar com encantamento, com admiração. O resultado também importa, afinal será base para novas conquistas, mas o processo... Estamos acompanhando nossa caçula na 2ª fase da FUVEST (vestibular da USP). Por meses e meses vi esta menina debruçada em livros, apostilas, rascunhando aqui, desesperando-se ali, vibrando acolá. Vestibular é algo realmente desumano e ouvir a conversa desses meninos me dá um certo alivio: esquecemos a maioria destes conteúdos, abrindo espaço para aprendizagens mais significativas. Ao chegar lá, vários jovens aguardavam o portão abrir. A maioria parecia bem mais velha que ela, afinal entrar na USP de primeira é para poucos. Mas fomos leva-la em comitiva para darmos uma força: pai, mãe, irmã. E ela comentou: “Acho que sou a única que estou com a família.” Esperamos que ela entrasse e ficamos do lado de fora até que o portão se fechasse. Quando olhei ao redor, vi várias famílias também na mesma situação e pensei: “Que bonito é poder acompanhar de perto, afligir-se junto, mostrar apoio, mas deixar que os filhos conquistem por si os desafios que os esperam.” Amanhã, ao final da última prova combinamos de tomar um porre... de milk shake! Merecidíssimo! Tim tim.

2 de jan. de 2014

87. CAIXA DE FELICIDADE.


Minha filha mais velha falou-me da caixa de felicidade sugerindo que fizéssemos. O que consta? Ao final do dia, reveja-o, reviva-o,  note e anote o que lhe causou felicidade, por menor que ela possa parecer ser. Coloque na caixa e reserve. Ao final deste ano, você terá vários momentos guardados. Abra a caixa e os leia, observando quantos presentes a vida lhe deu. E o quão simples é a felicidade. Achei bonita a ideia e vou fazer a minha caixa. E já tenho o primeiro papel.
Estou de férias, desfrutando momentos ricos e únicos em família. E sei que no fim destes dias vou enfrentar e encarar de frente o ninho vazio. Mas ontem, no abraço de boa noite às minhas filhas, deite-me com elas e ficamos a conversar da vida. E num abraço triplo elas me disseram: “Já já estaremos nós com o ninho vazio. Você vai fazer falta.” E me dei conta do que é o ninho em nós, o quão amplo ele é, quem o compõe e quem se responsabiliza por ele. Quando todos cuidam e se deixam ser cuidados o ninho torna-se único e fortalecido. Ter um ninho assim é para mim felicidade. Receber um abraço forte e saber que você fará falta, é também felicidade. Entregar-se ao abraço e corresponder com verdade e vontade é felicidade. Deixar o olho molhar com tamanha simplicidade é felicidade.
Que nossa caixa de felicidade seja abastecida com pequenos e grandes, simples e complexos, amorosos e generosos momentos de felicidade. 
Feliz 2014!