31 de ago. de 2014

115: ANSIEDADE DE MÃE: DOMAR OU SER DOMADA?


Quem é mãe sabe muito bem o que é a ansiedade, isto é, anteceder situações de perigo reais ou imaginárias, que podem provocar medo, dúvida ou expectativa. Na vida atribulada que levamos, com todos os perigos que estão ao redor, é muito fácil sofrermos por antecipação, em especial quando se trata de filhos. Há ene situações que nos levam a isso, mas quero focar em apenas uma: quando os filhos não atendem o celular. Cansada das preocupações e de não conseguir que os filhos a atendessem, a mãe americana Sharon Standifird, criou um aplicativo já a venda e com grande sucesso. Ele bloqueia o celular quando o filho não responde sua chamada ou mensagem. Após isso, cabe-lhe duas opções: ligar para a emergência ou para os pais, os únicos que podem desbloqueá-lo. Uma adolescente comenta: “Acho que a mãe da pessoa que fez isso é muito louca!” E eu diria: “Cara adolescente, que mãe não fica louca sem notícias num mundo tão insano como o nosso?” De fato, conheço poucas. Infelizmente esta criação pode ser útil para muitas mães, que diriam: “Se não consigo educar por amor que seja pela dor.” Todavia, comprar o aplicativo é fácil e prático, mas também instala-se uma guerra. Melhor educar os filhos para que nos atendam e que haja compreensão mútua! E nada melhor do que uma boa conversa, buscando o porquê dessa ocorrência. E então, uma boa reflexão encarando nossas ações e os reajustes necessários de ambas as partes. Vale ainda aprender a gerenciar as emoções, modificar pensamentos ruins e buscar a lucidez, a saúde psíquica e a paz. 

24 de ago. de 2014

114: NO AR: A EDUCAÇÃO QUE TEMOS E A QUE QUEREMOS.


Participei, nesta semana, de um debate na TV Assembléia da Bahia com Marilene Betros, coordenadora da Associação dos professores licenciados do estado da Bahia, Maria Thereza Marcílio, gestora institucional da Avante-Educação e Mobilização Social e a Deputada Federal Alice Portugal, que participou, entre tantos outros, da Comissão Especial para análise do novo Plano Nacional de Educação (PNE). Fomos mediadas por Aureni de Almeida e o tema girava em torno de nossa educação real e a ideal. Um abismo enorme, mas onde podemos vislumbrar pontes de esperança. Falamos de políticas educacionais, de avanços, dos ganhos que já alcançamos e dos quantos ainda estão por vir. Sintetizamo-nos em quarto palavras: entusiasmo, esperança, luta e confiança. Muito se falou do novo PNE, que estabelece diretrizes, metas e estratégias para os próximos dez anos, sancionado neste Junho pela Presidenta Dilma Rousseff. Debatemos, entre outros, a aprovação da destinação de 10% do PIB à Educação Pública,  a ampliação do acesso desde a educação infantil até o ensino superior e a melhoria da qualidade do ensino. E em especial, a valorização do professor tanto em termos de sua formação e continuidade, quanto em melhorias de salário. Aliás, é urgente uma formação em que o professor tenha compromisso e ciência da grande responsabilidade que tem na formação dos seres humanos. O PNE é sem dúvida um grande primeiro passo. Que venham os demais. Mas, colocando os pés no chão, sem tirar a cabeça das nuvens, penso em algumas coisas.
A inclusão de todas as crianças de 4 a 5 anos na pré-escola é uma maravilha, em especial se tiverem ótimas condições para o seu desenvolvimento. Porém, a meta de aumentar para 50% a oferta de vagas das crianças de zero a 3 anos poderia ser ampliada, uma vez que esta é a principal fase de desenvolvimento da criança, na qual o seu cérebro terá a base de sua arquitetura. Vi na China tal sabedoria, onde o maior investimento nos próximos 10 anos dar-se-á na Educação Infantil, alicerce da educação. Outra importante meta do PNE inclui a alfabetização de todas as crianças até o fim do terceiro ano do ensino fundamental. Dá-me tristeza pensar nessa realidade e na continuidade da concorrência desleal. Afinal, as crianças de escola privada já entram alfabetizadas no ensino fundamental. Um país igualitário como vi na Finlândia, parece-me bem distante. Chateei-me com o artigo que trata de fiscalização. O cumprimento das metas propostas deverão ser continuamente monitoradas pelo MEC, pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e pelo Fórum Nacional de Educação. Tenho escrito muito sobre a cultura da confiança e o sonho de termos um país, onde as pessoas saibam das suas responsabilidades e as cumpram. Isso se educa e se resignifica. Assim como a autoconfiança (valorizamos mais o que vem de fora) e o nosso “way of life” (imediatistas, com “jeitinhos” e egocentrados). Claro que há muitas pessoas que buscam fazer a diferença e fazem. Juntemo-nos a elas. E se o PNE foi um grande passo, ajudemo-nos com os demais. Afinal, uma andorinha só não faz verão. 

21 de ago. de 2014

113. EDUCAÇÃO PELO MUNDO.FINLÂNDIA: X. A voz do leitor.


Visitei entre outras, na Finlândia, uma escola para crianças de 1 a 3 anos. Escrevi na minha coluna da Revista Pais & Filhos as minhas impressionadas impressões e lições tiradas dessa visita. Vale a pena conferir. http://www.paisefilhos.com.br/blogs-e-colunistas/de-olho-no-cotidiano/elevar-a-crianca-grande-licao
Recebi comentários em redes sociais, mas um deles chamou-me a atenção e o coloco em discussão. Resumidamente, a coluna fala do desenvolvimento da autonomia, responsabilidade e independência desde a primeira infância. E, a diferença que isto faz no presente e futuro do ser em formação.
A brasileira Renata trabalha com educação infantil em Montreal, Canadá. Ela conta que lá a base da educação é essa mesmo: autonomia acima de tudo. “Se uma criança aprende determinada tarefa (colocar os sapatos por exemplo) nunca mais os pais a farão por ela.” Todavia, percebe nas crianças mais velhas, nos jovens e mesmo nos adultos uma grande dificuldade para lidar com a hierarquia e a autoridade. Nota muito desrespeito e desobediencia de todos para com todos. Então, questiona se isto não é fruto do desenvolvimento precoce da independência. Pois, se desde pequena a criança é tão acostumada ao “Je suis capable de le faire” (Sou capaz de fazer sozinho), como conseguirá cumprir ordens ou reconhecer uma autoridade? Para ela, tudo parece ser uma “reaçao em cadeia: criança autonoma/independente demais - adolescente idem que nao suporta autoridade - adulto que cresceu sem conhecer hierarquia/autoridade.” Faz sim sentido a sua inquietação. Contudo, vejo esse comportamento no Brasil, onde não é costume educarmos para a independência e autonomia. Então, o buraco parece ser mais embaixo. Pergunta ainda se vi isso na Finlândia ou se educação previne tal conduta. Eu não vi tal comportamento nem em escolas e nem nas ruas, mas vi uma educação com liberdade e limites bem claros. Porém, verifiquei com uma brasileira que já está inserida na cultura finlandesa por dois anos. Diana conta que há alguns jovens que fogem a regra, e que perdem os princípios básicos da educação, como em qualquer parte do mundo. Porém, nota que a maioria das pessoas, independente de classe sócio-econômica, respeita a autoridade alheia e “quando você conhece os seus limites e responsabilidades, a autonomia ou independência é consequência.” A disciplina e as regras, diz ela, libertam. Também faz muito sentido o que ela diz.
Eu continuo a crer que a melhor forma de educar ainda seja pelo desenvolvimento da autonomia responsável e com uma liberdade onde a criança, desde pequena, aprenda que está no mundo, com o mundo e com os outros. Eu percebo em minhas filhas adolescentes, que assim as eduquei, um enorme respeito a nós e aos outros, e reconhecem autoridades, inclusive a nossa. Todavia, é fato que os jovens de hoje não vêem hierarquia como víamos. O mundo não pára e nem a educação. Leia este post. http://filhosofar.blogspot.com.br/2014/02/92-o-jovem-de-hoje-foi-crianca-de-ontem_4.html

7 de ago. de 2014

112. EDUCAÇÃO PELO MUNDO XIX: Finlândia: Coerência do princípio ao fim.


Nas escolas visitadas na Finlândia, vê-se excelente estrutura, moderna e ampla, espaço transparente, organizado e limpo. Nos corredores, obras de artes feitas pelos alunos são repletas de mensagens, habilidades, liberdade e respeito à diversidade. 
Além das aulas do currículo básico, os alunos têm várias optativas. Aulas de línguas, instrumentos musicais, corte e costura, gastronomia, lavanderia, marcenaria, tecelagem entre outras, com salas incrivelmente bem equipadas. 
E claro que numa sociedade tão igualitária e com mão de obra tão cara, no mínimo, aprender a fazer de tudo é uma excelente opção. Meninos e meninas cozinham, costuram, soldam, martelam sem distinção. A maioria dos alunos tem aparência saudável, descontraída e feliz. E o clima difícil não os impede de nada. Equipamentos e roupas especiais fazem com que a vida continue e explorem os conhecimentos para além das salas de aula.
Em geral, a conversa iniciava-se com a direção, mas eram os alunos que nos apresentavam as escolas em movimento. Apesar de ainda jovens, mostravam-se bem posicionados, seguros e cientes do que diziam. Sabiam o que aprendiam, o por que aprendiam e como aprendiam cada coisa. Que maravilha! Mas isso não é milagre. Para se ter uma educação de referência, o professor tem mesmo que ser bom, dedicado, estudioso e gostar do que faz. Precisa desenvolver nos alunos diversas habilidades e competências, diversificar métodos de ensino pois cada aluno aprende de um modo e em um tempo. Usar ainda os diversos sentidos e tecnologias, e propor várias possibilidades de aprendizagem. E isso vi na prática. Cito um exemplo: Os alunos haviam escrito um texto sobre um dado assunto, usando caneta e computador. Depois transformaram-no em imagens, então em colagens e por fim em audiovisuais. E tudo era apresentado ao grupo. As neurociências aplaudem!
O professor divide ainda os alunos em grupos de acordo com as capacidades e habilidades, e para isso é preciso conhece-las e saber identifica-las. Como também, possibilita que os melhores alunos ajudem os que têm mais dificuldade para que todos sejam bons. Mas ele não trabalha sozinho. Tem o apoio de um equipe de profissionais, o que contribui para um trabalho que prima a unidade na diversidade, e à igualdade. E isso também vi. Os alunos não são competitivos, mas estimulados à convivência e à construção em conjunto, pois ninguém aprende sozinho.  “Se é para competir que seja consigo mesmo para ser melhor.”, diz Mikael Flemminch do Conselho de Educação.
E nota-se, na prática, que os alunos têm mesmo a responsabilidade, e  não sofrem tantas pressões. A avaliação, por exemplo, serve em especial, para trazer informações aos alunos e aos professores sobre os ajustes necessários tanto ao ensino quanto à aprendizagem. Bravo! Disse-me uma professora: "A escola não é lugar de competitividade e alta pressão. Mas sim lugar de fazer amigos, aprender e ser feliz." E assim parecia ser.
O que mais dizer?
Finlândia, coerência é o seu sobrenome. E qual o nosso?

4 de ago. de 2014

111. EDUCAÇÃO PELO MUNDO VIII: Finlândia: Inclusive, educação inclusiva.


Para uma sociedade igualitária, a Finlândia aposta, inclusive, na educação inclusiva. Sabem que a dificuldade de aprendizagem pode colocar o sistema educacional em risco. Então ficam atentos e cuidam para que os alunos tenham uma boa base e não fiquem com lacunas. A cada dois alunos, um vai para as aulas de reforço, por ter mostrado alguma dificuldade. Ou seja, não deixam gaps! Se ainda assim o aluno não vai bem, é feito a ele um programa especial com duração de seis semanas. Se funcionou, volta ao ensino regular. Se não, um novo programa é elaborado, totalmente individualizado, com materiais feitos para o seu perfil, no qual pais, professores, médicos, psicólogos participam. E, há ainda, a classe de baixa motivação, para  alunos que não querem aprender, com uma equipe especializada em ajuda-los a querer e a gostar de aprender. Mas, apenas 4-5% possuem realmente problemas de aprendizagem, porcentagem que é mundial. E este número vem diminuindo devido ao trabalho precoce que fazem já na Educação Infantil. No Brasil, esta porcentagem é bem maior. Resolvemos o problema dopando nossas crianças? Quantas delas tem reais problemas de aprendizagem? Quantas são apenas problemas de ensinagem? Sei que meus ouvidos ouviram e meus olhos viram que os finlandeses fazem o máximo para que o aluno possa integrar-se no programa de ensino geral e quase não há reprovação. É sem dúvida um país igualitário! Atenção escolas, professores, pais!!! Inspiremo-nos neles!