25 de fev. de 2015

139. EDUCAÇÃO PELO MUNDO: Índia e a metáfora do conhecimento.

Entrada da Biblioteca. Torre vista de fora. Vista da torre.

No Centre for Learning, em Bangalore, vi na biblioteca a metáfora da aprendizagem e da construção do conhecimento. Entrava-se pela porta principal, e ali via-se os livros em estantes em que todos pudessem ter acesso. E uma professora que explorava os livros com um grupo de crianças pequenas. (Como se naquele estágio servisse à apresentação do conhecimento e de suas possibilidades.) No meio do grande salão, via-se uma escada em caracol que levaria a um outro patamar, iluminado, sem tantos estímulos e voltados ao silêncio. (A apropriação do conhecimento requer luz, calma, degrau por degrau num espiral crescente enquanto apura-se em silêncio e individualmente o que se está aprendendo.) Desta parada, encontra-se outra escada. Agora  bem inclinada e reta que dá em um platô menor, porém também iluminado, e onde se encontra um baú. (Uma boa simbologia para "pousar" o conhecimento já apurado e apreendido.) E do baú, uma nova escada. Agora mais íngreme e difícil, terminando em uma pesada tampa que indicava levar para novo patamar. (Como se o conhecimento, sempre inacabado, precisasse cada vez mais de desafios para ampliar-se e se tornar apropriado). A tampa aberta levava para a torre de onde se tinha uma visão surpreendente. Daquelas de tirar o fôlego. (Assim como a aprendizagem que amplia a nossa percepção para o mundo, possibilitando novas visões e ações.) E no alto da torre, um sino. Como se fosse preciso avisar a todos: Consegui!

22 de fev. de 2015

138. EDUCAÇÃO PELO MUNDO: Índia e a educação por projetos: Bangalore.

Dra Yasmin Jayathirtha, fundadora do Centre for Learning.

Em Bangalore, conheci dois projetos especiais. Um deles lembrou-me a deliciosa Escola Ágora em Cotia-SP onde aprendi muito enquanto ensinava. O outro, encantou-me o modo como nos foi apresentado, bem como a integração da instituição em sua complexidade. Um projeto vivido por vários ângulos. (Falarei dele no post de n.140.)
Centre for Learning fica há 40 Km de Bangalore, e assim como a Ágora, fica “em meio ao mato”, lugar privilegiado para muitos ensinos e aprendizagens, com espaços inimagináveis a serem explorados. Foi criado em 1990 por um grupo de educadores que queriam explorar a natureza da aprendizagem, a sua relação com os desafios atuais e o desenvolvimento do eu interior. Assim, baseados em Krishnamurti, fundamentaram a escola de forma não hierárquica, holística, interdisciplinar, introspectiva, provocando mais perguntas do que oferecendo  respostas. Não trabalham com recompensa e nem punição. E buscam que o ambiente educativo  traga conforto e segurança para que os alunos possam ser vulneráveis, enquanto buscam a própria verdade.

Tive o privilégio de participar de uma das aulas, que durou cerca de duas horas. Voltei no tempo e me vi com meus alunos, há tantas e tantas milhas dali. Eram dois professores, cerca de doze alunos de 10 a 11 anos, Ana Lucia Guimarães (querida amiga e educadora) e eu. Todos sentados no chão, com os pés descalços e no mesmo círculo. A aula deu início com os professores calmamente perguntando o que os alunos haviam aprendido na aula anterior. (Bravo!) E alunos respondiam com a mesma calma, sem nenhum tumulto. (Bem diferente da nossa realidade!) Esse início já me deixou claro que a aula seria produtiva e construtiva. Logo o professor passou um filme sobre o que estudavam: dinastia chinesa. Provocava reflexões, novas perguntas que não eram por ele respondidas, mas que devolvia aos alunos proporcionando-lhes inquietantes e novas questões, além de muito crescimento. Os alunos mostravam muita atenção, participação, curiosidade e respeito aos outros enquanto construíam seus conhecimentos. E cada um deles anotava, em esquemas, o que achavam pertinente. O professor não dizia: “Isso é para anotar.” “Posso apagar?” Não! Os alunos eram educados para serem autores do conhecimento, da própria vida, com autonomia e responsabilidade. Cada caderno era diferente do outro. (Aleluia!) Após essa rica troca, mudamos para a sala ao lado, que era muito parecida com a que estávamos. Ou seja, não tinha quase nada. Mas esta tinha um quadro que a diferenciava. E dos dois professores, brotavam ainda mais debates, reforçando com as crianças os novos conhecimentos (A neurociência agradece!), enquanto propunham a atividade a ser feita em casa. Os alunos deveriam se imaginar pertencentes a dinastia chinesa e escreverem em forma de uma peça teatral, ou uma carta, ou dialogando com alguém da mesma época. Enfim, deveriam ser bem criativos para apresentar o que sabiam. Isso me lembrou eu mesma. Adoro proporcionar tarefas assim, pois sei que o cérebro do aluno adora. Nada melhor do que transformar dever de casa em prazer de casa. (Atenção professores!). 
Aula do querido professor Navneeth.

Interessante que ainda almoçamos com eles, ficamos boa parte do dia por lá e não vi nenhum smartphone, nem tablets, nem celulares comuns nas mãos dos alunos ou de professores. Mas vi muito conhecimento vivo e de vida sendo alí construído. (Boa refexão a se fazer.) E, em meio a intensa vegetação, lá estava a biblioteca com uma metáfora pronta sobre a aprendizagem e a construção do conhecimento. Contarei na próxima postagem, para então falar de Srishti com seus lindos e integrados projetos.

18 de fev. de 2015

137. EDUCAÇÃO PELO MUNDO: ÍNDIA E A EDUCAÇÃO POR PROJETOS: MUMBAI



As próximas postagens tratarão de projetos educacionais visitados na Índia. Serão postagens divididas por cidades. Viaje junto. Acompanhe, aproveite, acrescente. Sempre há o que aprender e ensinar.
Das visitas feitas em Mumbai relacionados a educação, destaco a renomada educadora Sophie Ahmed, que apresentou a mim e a Edna Marchini (grande amiga e educadora) o modo de viver dos indianos, algumas atrações, as praias de Mumbai (Chowpati e Juhu), sua coleção de brinquedos com exemplares do mundo todo e o seu espaço educativo voltado à aprendizagem da criança mediante os jogos e os brinquedos. Uma grande pesquisadora e uma lenda viva cheia de vida em seus mais de 80 anos.

Na Billabong High International School, fomos recebidos pela querida Lina Asher, uma australiana com sangue indiano, idealizadora e fundadora desse projeto educacional, um dos mais importantes da Índia. Trabalham baseados nos mecanismos cerebrais de aprendizagem, tema que venho defendendo e compartilhando há  anos. Possuem a consciência de que, assim como os japoneses, os indianos desenvolvem mais o hemisfério cerebral esquerdo. Portanto, investem em atividades que exploram também o hemisfério direito, chamados por alguns neurocientistas como o hemisfério do século 21, devido as suas especificidades. É o hemisfério capaz de enfrentar desafios, pensar criativamente, ter visão sistêmica e inovadora. Valorizam ainda, o desenvolvimento  da inteligência racional tanto quanto a emocional, outra competência de grande importância nos dias atuais. E exploram as múltiplas inteligências numa prática democrática, que cria diálogo entre o oriente e o ocidente, e que prepara o aluno para o hoje, sem perder o olhar para o amanhã e as competências que se farão necessárias. Na prática, percebi algumas contradições em relação ao discurso, não tão diferente do que o que vemos por aqui. Afinal, para agir conforme nossas concepções expressas é preciso primeiro tomar consciência dos condicionamentos incorporados, que não são tão óbvios assim, para então transformá-los na experiência. Questão de consciência, motivação e tempo. O mais importante estão fazendo: caminhando e juntos.

Próxima parada, Muktangan um projeto inglês que tem uma escola de formação docente com parceria de sete escolas municipais de comunidades indianas educacional e economicamente marginalizadas. Formam seus professores em teoria e prática, para que ganhem autonomia, multipliquem-se e impactem a política por uma educação melhor. A primeira tarefa dessa formação é ensiná-los a falar inglês para que formem as crianças nesse idioma que, na Índia (e no mundo), favorece melhores oportunidades. No primeiro ano, os futuros professores aprendem fundamentos pedagógicos. No segundo, conectam teoria e prática. E no terceiro,  vão à prática com foco nos objetos da Pedagogia. Além de lhes ofertarem uma boa base, promovem-lhes grupos de estudos e discussões entre professores, coordenadores, gestores para trocarem ideias e conhecimentos por um bem comum. Participei desses dois momentos: da formação dos professores e de sua atuação em sala de aula. Interessante o processo. Partem de uma comunidade carente, formam seus agentes para nela atuarem e transformarem em busca de melhores condições de vida. Lembrando que ter melhor condições de vida não se resume a ter mais, mas sim, a ser mais. Generosidade, responsabilidade e dignidade são marcas desse vivo projeto que encanta e proclama com Gandhi: “Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse viver para sempre.” Um bom recado.
Próxima estação... Bangalore com dois projetos incríveis. Acompanhe.

11 de fev. de 2015

136. EDUCAÇÃO PELO MUNDO: ÍNDIA E A EDUCAÇÃO GERAL


Tenho sentido urgência em conhecer os países, in loco, antes que a globalização tire deles o que há de mais interessante: a própria cultura com suas especificidades. Por isso, as últimas postagens trataram da cultura da Índia, que diz também da educação e da formação do ser. A Índia não é país que se destaca em educação. Mas, há projetos belíssimos que merecem ser compartilhados. Iniciemos com o que há em comum nas concepções e ações das instituições visitadas e que nos fazem refletir sobre as nossas.
Os projetos educacionais envolvem todos no processo. A equipe pedagógica, os alunos, funcionários, os pais. Cada um tem o seu papel definido e espera-se que o faça bem feito. E para fazer bem feito é preciso incluir o outro pois, como vimos, o bem estar de um depende do bem estar do outro. Isso faz uma diferença! Também assemelham-se no modo como vêem o educando. Um ser protagonista que requer ser desenvolvido no aspecto físico, intelectual, mental e espiritual. Espiritual que não se reduz ao sentido religioso, mas sim à formação do eu interior, muitíssimo valorizado na cultura.
Interessante notar que antes de qualquer atividade, e isso incluía os seminários de educação que participamos, havia uma introdução que objetivava levar os participantes à concentração, colocando-os na mesma frequência e harmonia. Uma música, um mantra, uma atividade meditativa, uma dança conjunta, uma construção de mandalas são exemplos que por lá vivi em diferentes ambientes educacionais.
Assemelham-se ainda nos espaços físicos. Poucas coisas, sem luxo, contendo apenas o que faz sentido usar. Curioso, que a maioria das escolas preferem o chão a vi mesas e cadeiras. Em geral, professores e alunos sentam no chão, descalços e em círculo para não haver diferenciação entre o ensinante e o aprendiz. E tanto professores quanto alunos fazem os seus registros em esquemas ou mapas conceituais, que sabemos que é uma excelente maneira de organização do conhecimento externo e interno.

Apesar da não diferenciação, era claro uma hierarquia na instituição, mas com relações bem integradas. Como exemplo, ilustro as refeições. Diretor, funcionário, aluno, visitante, cada qual tinha o seu espaço. Mas todos comiam com a mão, a mesma alimentação e lavavam os seus pratos. Linda metáfora.
Professor e Diretora do Centre for Learning
O ambiente escolar era vivo e colorido. Pés no chão, literalmente. Simplicidade em grandeza que desnudavam o meu ser, colocando-me de frente a tantos condicionamentos. E para além do quociente intelectual (QI) e o quociente emocional (QE), as instituições viviam o QG: quociente de Gandhi. A imagem abaixo já diz tudo.

Nas próximas postagens contarei dos projetos específicos, daqueles que me fizeram sentir e fizeram sentido.  Serão postagens divididas por cidades. Mas todos os projetos tem algo a nos acrescentar. Acompanhe, aproveite.