No post anterior, tratamos do que é o TDAH, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o porque
ele ocorre e os cuidados com a
hiperdiagnosticação. Neste, falarei de suas principais dificuldades e como
podemos ajudar as crianças com tal transtorno, que as deixam lentas para
amadurecerem e rápidas para se distraírem. Vamos a algumas dicas:
1. A criança com TDAH tem muita dificuldade com a organização e planejamento de sua ação. Perde materiais, sempre
está em bagunça e as atividades com longas etapas são bem árduas a ela. COMO AJUDAR? Deixe claro a ela as etapas
de uma organização e a necessidade de planejamento. Faça junto, passo a passo e a incentive a ir ganhando autonomia. Por exemplo: Arrume a mochila da escola
com ela, pontuando uma sequencia de ações. Olhar a agenda para ver o que é
preciso, pegar o que é preciso, lembrar se a profa pediu algo, fazer o check
list e organizar tudo dentro da bolsa. Todos os dias siga a mesma sequencia
criando uma rotina. Rotina organizada é muito importante a ela. Quando já
estiver melhorado nesta atividade, vá saindo de cena, mas o desafie. Ex: “Vou
olhar a agenda com você, e vamos ver o que precisa. Vou sair e contar até cem.
Quando eu voltar quero ver tudo em cima da mesa para fazermos o check list.
Topa?” A criança se motiva e vai topar. Quando você voltar, elogie o seu
esforço independente do resultado e na próxima faça os ajustes necessários. A
cada conquista e reforço desta conquista, você faz o mesmo com outra etapa até
que ele consiga fazer sozinho. Lembre-se: Rotina para organizar e desafios e
feedbacks positivos os ajudam muito.
2. Por conta de disfunção neuroquímica e tardio amadurecimento cerebral, a criança com TDAH tem dificuldade em adiar
recompensas, controlar suas ações,
emoções e pensamentos tornando-se impulsiva.
Atravessa a rua sem olhar o movimento, responde às perguntas sem refletir, não
aguenta ficar em filas, esperar a vez ou ficar muito tempo em mesma atividade
ou sentado. São craques em “meter os pés pelas mãos” e explodem facilmente. COMO AJUDAR? Valorize cada ação
assertiva da criança. E quando ela errar, parabenize-a pelo seu esforço e a
apoie a seguir adiante, a recomeçar. Ensine-a a pensar antes de agir, buscando
estratégias para dar tempo de refletir antes de agir. Por exemplo, a cada pergunta
feita ela precisa respirar profundamente antes de responder ou fazer algum
movimento físico do tipo um estalo de dedos. E quando tiver que esperar a vez, terá
o desafio de prestar atenção ao que cada um faz até chegar a sua vez. Ou
inventar uma história em que vai colocando cada um da fila nela. Importante é ajudá-lo
a criar estratégias para administrar sua inquietude. Em relação as emoções, é
preciso ir educando-a. E o melhor jeito de começar é ajudá-la a identificar a
emoção sentida, a nomeá-la e a falar sobre ela buscando meios para gerí-las. É muito
importante que a criança participe destas conversas e encontre apoio em suas soluções.
3. A criança com TDAH tem ainda muita dificuldade com a flexibilidade mental, isto é, com a
capacidade de mudar o seu plano de ação. Quando comete um erro em um problema matemático,
por exemplo, possui muita dificuldade em buscar caminhos alternativos, tendendo
a repetir o erro. COMO AJUDAR? Mostre
a ela outras formas de ver e fazer o problema. Sempre com objetividade, de modo
concreto e de modo desafiador para que ela mantenha a atenção e a motivação. Por
exemplo: Ela não consegue compreender que 1-1=0 e sempre comete o mesmo erro.
Pegue uma fruta, uma bolacha, o que quiser. Dê a ela e pergunte quantas
“bolachas” ela tem nas mãos. Ele dirá uma. Peça para ele comer e pergunte,
quantas bolachas há em sua mão agora. Além disso, peça também para outras
crianças ou pessoas explicarem para ela como entendem esta expressão matemática.
Perceber que há outras formas de pensar e perceber é muito importante para
qualquer um, mas em especial à criança com o TDAH.
4. O sistema atencional do cérebro é muito complexo e importantíssimo à
nossa vida. Sem ele, as informações não chegam ao cérebro. E o da criança com TDAH é disfuncional, dificultando-a a manter o tônus atencional, a selecionar
e manter os estímulos relevantes e a resistir
estímulos distratores. COMO AJUDAR?
Na escola, ela deve sentar bem próximo da professora. Em seu ambiente não deve
haver muitos estímulos para a destrair. Na hora de fazer a tarefa escolar ou
estudar, organize um espaço com poucas distrações. E a ajude a colocar na mesa
apenas a tarefa que irá fazer naquele momento. Deve aprender a fazer uma coisa
por vez, do começo ao fim antes de prosseguir. A cada término de uma etapa,
deixe-a caminhar um pouco, brincar, mas procure deixar um tempo marcado e que
deve ser cumprido para que ela possa ir desenvolvendo a atenção e o controle inibitório. Ajude-a ainda com regras claras,
anote em um quadro junto com ela os horários, as tarefas a fazer e vá a ensinando a ganhar esta autonomia. Tarefas longas devem ser divididas em partes
menores e valorizadas a cada conclusão de uma etapa. E ajude-a a manter a
organização, fazendo-a participar da mesma e transformando-a numa atividade
lúdica para que ela consiga manter a motivação
e o esforço tão difíceis a ela.
5. Outra dificuldade que ele encontra se relaciona à memória operacional, que é aquela que
nos permite manter temporariamente as informações na mente, manipulá-las,
pensá-las. COMO AJUDAR? Não dê
atividades longas e que exijam complexas reflexões. Toda e qualquer atividade
ou mesmo reflexão deve ser trabalhada passo a passo, etapa por etapa como estes
jogos eletrônicos que tanto atraem as crianças. A cada etapa vencida, conversem
sobre a síntese feita daquela etapa para reforçar os seus conhecimentos,
estiquem os corpos e sigam para a próxima. Faça brincadeiras com ela do tipo
que vai acrescentando coisas para ir guardando na memória. Por ex: “Fui a feira
e comprei laranja.” Ele deve repetir o que comprou e acrescentar a sua compra,
como por exemplo: “Fui a feira e comprei laranja e limão.” E você diz: Fui a
feira e comprei laranja, limão e morango.” E assim consecutivamente. Ótima
atividade para melhorar a memória operacional.
E por fim, alguns jogos infantis que ajudam muito as crianças com TDAH.
Vivo e morto; Jogos de trilha; Forca; Jogos de baralho que sejam rápidos;
Bingos com cartelas menores; Jogos de estafeta; Cantigas de roda; Jogo de
memória, aumentando o grau de dificuldade conforme ele vai progredindo; Jogos
que envolvam a atividade física e de preferência ao ar livre; E muitos tantos
outros.
Meu apelo: Cuidar com as reclamações pois, por ser a criança com TDAH
muito intensa e de grande inquietude, ela cansa qualquer um e costuma receber
muitas críticas, enquanto o seu desenvolvimento do sistema nervoso pede bem o
contrário: elogio. Mas não o elogio a qualquer preço que isso não ajuda. Mas o elogio do esforço e que o ajude a
manter a sua empreitada. E o mais importante: creia no potencial da criança,
pois seja qual for a sua dificuldade, todo ser humano pode, pede e tem o
direito de desenvolver-se e alegrar-se com isso.
Boa volta às aulas, capriche.
Qualquer dúvida, email me
prof.ligiapacheco@gmail.com
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