O último projeto que irei apresentar foi conhecido e vivenciado em
Ahmedabad, uma cidade também bem interessante. Fomos a Riverside, escola
lindamente construtivista, cuja fundadora, Kiran Bir Sethi, é também a
idealizadora do fantástico projeto “Design for Change”. (ps: Tem um TED bem
interessante com ela.) Conhecemos a escola pelos alunos que, ainda que pequenos, deram um
show de como a escola funcionava. Falaram dos projetos, dos ideais da escola, de
como aprendiam e o que aprendiam. Emocionante de se ver, bem como ver alguns
projetos acontecerem.
Interessante como eles vivenciam a aprendizagem, sentindo
na pele, o que para mim é o melhor modo de aprender. Por exemplo: Um dos temas
era o trabalho infantil, muito comum na Índia. As crianças da escola viveram um
dia como se fossem essas crianças. Ficaram o dia todo quebrando pedras embaixo
do sol e de um calor insurpotável. Um outro projeto achei uma graça e servia
aos alunos que tinham desavenças entre si. Explicitavam a raiva, marcando em um
mural quem não gostava de quem. E um deles presenteava o outro com uma planta.
E ambos deveriam cuidar dela, enquanto se cuidavam. Deu-me certo conflito essa
exposição, mas ao mesmo tempo achei lindo.
Passaria dias contando os projetos
que vi ali. Mas vale focar no “Design
for Change”, que inclusive a própria Kiran reforçou aquilo que os pequenos alunos já haviam
nos dito. É um projeto que trata o aluno como protagonista histórico e ser
capaz de propiciar transformações. O método é simples e segue quatro passos:
Sentir (feel), Imaginar (imagine), Fazer (do) e Compartilhar (share). Ou seja,
o aluno detecta algum problema que o incomoda, o que já o ensina a
observar a realidade como ser ativo.
Então ele imagina como pode resolver o problema, e em geral convoca outros
para ajudá-lo. Próximo passo é colocar em prática o planejamento do passo
anterior, isto é, fazer. E então, compartilhar a experiência, que é um modo de
contaminar benignamente a outros.
Esse projeto é relativamente novo e já
alcançou boa parte do mundo. Assistimos vídeos de diversos países, com
diferentes problemas e suas resoluções. Hong Kong, Butão, Chile, Colômbia,
França, Canadá, EUA, Camarões, México, Espanha, Brasil, Filipinas, Portugal,
Singapura entre tantos outros. E a maioria conseguiu arrancar-me lágrimas. As
crianças levantavam e resolviam problemas de bullying, cantina, recreio, material
escolar, acesso à escola, limpeza dos banheiros, buracos nas estradas, inclusão
de alunos e diversos outros. Não importava o tamanho do problema nem a sua complexidade, mas sim
ensinar às crianças a sentirem os problemas, pensarem em soluções e agirem.
Realmente arrepiante de se ver. Tudo muito inspirado no Quociente de Gandhi, já
explicado em post anterior. Mas que se resume numa frase do próprio: Seja você
a mudança que quer no mundo.
Que ideia simples, mas altamente transformadora.
E, além de compartilharem com a comunidade o problema sentido e como foi
resolvido, há ainda um evento, de que também participamos, onde há a troca com todas as escolas envolvidas da Índia. Como há ainda um evento bem maior,
onde compartilham com todas as escolas do mundo que abraçam essa causa. Kiran,
a idealizadora, é de uma simplicidade que nos faz pensar e é mulher iluminada.
Não há como negar.
Por mais que existam também aqui no Brasil projetos assim, eu nunca vi
algo tão grandioso, organizado e ao mesmo tempo simples e complexo. Sei que, de todas as viagens que já fiz, talvez
a Índia tenha sido a que mais impactou a minha vida. Proporcionou-me rever
muitos conceitos, valores e percebi mudanças que vieram delicadamente, assim
como os indianos são.
Obrigada Deus pela vida, por me acompanhar nessas aventuras
tão construtivas, por me permitir viver tais maravilhas. Obrigada a cada
indivíduo que passou pela minha vida, ajudando-me, por bem ou por mal, a ser pessoa melhor. Um ser ainda em construção, e que assim seja até o último
suspiro. Até a próxima viagem!