Na Índia há muitas sensações que não se nomeiam. Mas há as que são
possíveis compartilhar. Assim, seguem mais algumas curiosidades desse
interessante povo, de sua cultura e educação.
ATENCIOSOS
Num dos dias fui dormir bem indisposta e acordei sem hora. No café da
manhã, o garçon adiantou-se antes de eu sentar perguntando-me se eu havia
melhorado, se eu queria algo especial para comer. Como ele soube? Essas coisas
acontecem na Índia. Atenção e cuidado.
GENEROSOS
Um dos princípios que notei nessa sociedade é que o bem estar de um depende
do bem estar do outro. Com isso, tem-se um povo generoso, que contrasta com o nosso
egocentrismo, egoísmo, bem estar próprio. Um exemplo: Estávamos numa favela
ameaçada de destruição. Esgoto a céu aberto, casebres, cheiro muito forte,
sujeira. Os moradores, ao nos notarem, vestiram suas melhores roupas e vieram
timidamente conversar. Nada pediram. Pelo contrário, levaram-nos para um espaço
que nos protegia do sol e do forte calor. Serviram água, biscoito e tchai,
feito com especiarias, leite e chá preto. Eu pensava na procedência da oferta,
enquanto observava tais vidas. Mais uma lição: O indiano é mais ação do que
palavra. Brindamos com o tchái, apimentado, e dançamos deliciosamente uma
ciranda.
OLHOS
O olhar do indiano é forte, intenso, triste, seguro, contemplativo. Atrai
feito imã. Assim viu e sentiu o meu olhar.
NÃO COBIÇAM, NÃO OSTENTAM
“Impuro e desfigurante é o olhar do desejo. Só quando nada cobiçamos,
só quando nosso olhar se torna pura contemplação, é que se abre a alma das
coisas, a beleza.” Herman Hesse em Minha Fé.
Tentei explicar para umas adolescentes que o nosso povo é consumista, valoriza o ter e o parecer. Mas
isso não lhes fazia sentido. Afinal, pra que ter tanta coisa? O indiano parece
ser feliz com o que tem. Não fica desejando, cobiçando ou ostentando. Tem o que
necessita e se contenta contente. Perguntaram-me sobre a segurança no Brasil.
Disse-lhes que não era país de todo seguro. Havia muito roubo. Exatamente,
porque diferente deles, nós cobiçamos e ostentamos. Damos mais valor ao que tem
o ser exterior, enquanto eles primam pela evolução do ser interior. Isso faz
uma diferença!
SER E TER
Eles são muito voltados ao eu interior, ao seu desenvolvimento e a sua
elevação. Talvez o sistema de castas
tenha os ajudado a serem assim, como o próprio hinduísmo que ajuda o indivíduo
a experimentar a divindade e a encontrar a verdadeira natureza de seu ser. Esta
valorização se mostra também em metáfora nas construções. Fui a alguns
apartamentos e casas de indianos de classe média-alta e alta. As contruções
eram velhas, sujas, sem trato. Mas o interior das casas era repleto de obras de
artes, móveis bonitos, decoração requintada e de bom gosto. Ou seja, maior
valor no interior em detrimento do exterior.
SEGURANÇA
Em meio aquela multidão raras vezes me senti ameaçada, e as que me
senti foram muito mais pela minha herança cultural do que pela situação. Claro
que num país populoso desse fica-se tenso. Mas pude relaxar minhas neuroses de
prevenção contra roubos e furtos de objetos ou de vida. Como é bom! Sempre
sinto isso quando saio do país. Mas, de novo, a Índia me surpreendeu. E, fiquei
tão relaxada nesse quesito que no meu último vôo dessa jornada já a caminho de
casa, fui passar no RX e encontrei um casal de italianos com problemas e fui
ajuda-los. Segui com eles conversando e só depois de 50 minutos, graças ao
atraso do vôo, é que me dei conta de que havia esquecido minha mala de mão no
RX. Voltei correndo, e no Brasil, a encontrei. Ufa! Viva!
PROPINA
Bem evidente a corrupção no trânsito indiano. Nosso ônibus ou carro
eram sempre parados. Conversavam em hindi, mas pelo tom do diálogo e pelas
rupias passadas pela janela, era fácil imaginar o que acontecia. Mas um dia, a
briga parecia grande. O motorista era acusado de falar no celular. Lá se foi
mais uma nota. Curioso é que o motorista não tinha celular. Coisas da Índia!
NÓS E ELES
Corrija-me se eu estiver errada,
Nessa rápida generalização.
Os indianos focam mais o ser.
Os brasileiros mais o ter.
Os indianos focam o interno.
Os brasileiros, o externo.
Os indianos tem milhões de deuses.
Os brasileiros um único Deus e milhões de deusezinhos.
Na Índia há várias línguas
No Brasil apenas uma já une.
A quebra da moral aos indianos anuncia a vergonha.
A dos brasileiros, a culpa. Minha culpa, minha tão grande culpa.
Os indianos buscam a felicidade a partir do que tem.
Os brasileiros almejam a felicidade a partir do que não tem.
Os indianos...
Os brasileiros...
No próximo post, falarei de alguns projetos educacionais bem
interessantes que por lá conheci. Acompanhe, comente, aumente o conhecimento. Deixe
aqui a sua contribuição.
Ligia Pacheco, estou amando os seus textos e fotos. Maravilha!
ResponderExcluirQue país interessante!!
Bj
Felipe Santos
Felipe, e este é só o começo. Muita coisa interessante está por vir. Acompanhe.
Excluirbjs
Profe querida, é incrível como você consegue levar a gente a um outro mundo. Agradeço muito ter sido a sua aluna. Foi um grande privilégio. Obrigada por tudo.
ResponderExcluirum beijo no seu coração,
Flavia F.
Flavinha, obrigada por ter sido minha aluna, e tantas vezes, professora. :)
ExcluirMais da India aos olhos de Ligia Pacheco que tão encantadoramente reflete a alma do grupo.
ResponderExcluirMônica Samia
Monica, que responsabilidade, heim?
Excluirbjs
Texto encantador com imagens maravilhosas. Que viagem linda!
ResponderExcluirObrigado por compartilhar conosco.
Bjs bjs
Ana Lucia
Ana Lucia,
ExcluirEsta é Viagem para não esquecer nunca mais.
bjs bjs
Muito proveitosa a contextualização. Ja esperando pelos posts sobre a educaçāo.
ResponderExcluirValeu Prof!!!!!
Um beijo enorme
Carmem Lucia (Fafire)
Carmem Lucia, este é só o começo. Só preparando o terreno. rsrs
Excluirbjs
No primeiro momento interessante a questão da atenção e cuidado. Coisa que brasileiro não tem pelo seu individualismo, eu possa assim chamar. Amei saber que, “o indiano é mais ação do que palavra.” E que em uma comunidade, no qual costumamos chamar de favela, a recepção ao outro, o ser como ser. Infelizmente, e amei o que você disse a adolescente, como o consumir nos satisfaz aqui no Brasil. Cultura? Me fez lembrar a obra de Oscar Wilde, A alma do Homem sob o Socialismo. Tem um momento que ele diz: “De modo que o homem passou a achar que o importante era ter, e não viu que o importante era ser.” E que “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe” Eles sabem ser feliz com que tem, e como você falou Os brasileiros almejam a felicidade a partir do que não tem.
ResponderExcluirAnderson Menezes
Anderson, há muitos ensinamentos importantes para atentar-se. Achei-os incríveis.
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