Participei de um debate no programa “Espaço Livre” da TV Assembléia
Legislativa da Bahia com doutores em Sociologia e Psicologia. O tema: Quem são
os jovens de hoje? Defendi que é impossível falar de uma geração sem
contextualizá-la. O jovem de hoje vive numa transição de paradigmas, e já
iniciou uma revolução cultural. Ainda despreparados e desbussolados vão fazendo
o caminho ao caminhar, enquanto constroem uma nova ordem social, não há como
negar. Como melhor prepara-los?
Até a minha geração havia uma ordem hierárquica, um mundo padronizado
e disciplinado. Como filhos do iluminismo buscamos em tudo uma “razão de ser” e
em todos um “deve ser”. O futuro previsível era a projeção do presente. Ordem e
progresso com esforço, dedicação e competência. Os rebeldes iam contra aos
padrões pré-estabelecidos, com luta e responsabilidade coletiva, não é
companheiro? Mas hoje, é possível ser rebelde? Ir contra a que padrão? Vivemos num
mundo despadronizado, sem bandeira comum, com monólogos articulados em redes
sociais. Um mundo mix, viral, do espetáculo onde a ‘demonstração’ foi
substituída pela ‘mostração’. Sem um caminho pré-estabelecido, cabe ao jovem inventar
uma vida singular e imprimí-la no mundo. Que tarefa! Todavia, faltam-lhe várias
referencias e base. Que recursos possui para se inventar?
Generalizando, esta geração nasceu em época de prosperidade econômica,
da globalização e novas tecnologias. Nativa digital, foi educada na infância e
adolescência com muitas atividades, facilidades e consumismos, e acostumada a
ter e a fazer tudo o que quer, na hora que quer. Teve poucos exercícios de
responsabilidade e autonomia, inclusive com a própria vida, mas inúmeros
reforços para elevar a autoestima, criando-lhe a ilusão de que pode ser tudo o
que quer. E que não lhe façam críticas! Tornou-se uma geração multitarefária, imediatista,
impaciente, individualista, impulsiva, insaciável, anisosa. E, com visão
inflada de si, feroz ambição e certa arrogância, sai ao mundo sabendo que o seu
futuro é a invenção do presente, confiante de que por merecimento, e sem esforço,
destacar-se-á na multidão. “Curte lá no instagran!” Mas, logo percebe que suas
expectativas estão fora da realidade, sente-se distante do seu sonho de
felicidade e ainda percebe-se em inúmeros conflitos nas relações pessoais e
profissionais. Óh céus, óh vida, óh azar! Que tédio!
Mas há como evitar e ajudar. Basta educar seu filho para o mundo real,
para viver o processo, que nem sempre é feito de flores e/ou é imediato. Se
hoje é preciso inventar-se, é preciso criatividade. Para tê-la é preciso
conhecimentos experimentados, que requerem liberdade de ação e com ela, responsabilidade
e autonomia, e consciência de que não se é o centro do mundo.
Aproveitemos do inventar criativo e responsável para melhor formar nossos
filhos! Ajudemos a bem canalizar as tantas ideias e energias. Preparemos o
futuro cuidando do presente e façamos como Fleming: Onde todos viram fungo, vejamos
penicilina. Fé na vida, fé no homem, fé no que virá... vamos lá fazer o que
será.