Uma das coisas que mais me entristece na educação das minhas filhas é
vê-las perdendo a ingenuidade e os olhares da infância. Meu primeiro choque
desta dura realidade foi quando um casal de amigos foi sequestrado com as
filhas. Uma delas chorava tanto que o sequestrador quase a matou. Vi-me sem
saída e disse a elas: “Se um dia isso acontecer conosco, engulam o choro,
mantenham a calma e depois, quando tudo terminar, choramos todos juntos.”
Senti-me cruel, não dormi a noite, que mundo! Meses depois, assistíamos o
Jornal Nacional, elas passaram pela sala e viram um garoto americano e armado
entrando numa escola e matando quase todas as crianças. A mais nova, com cerca
de 6 anos, perguntou-me: “Se isso acontecer na minha escola é melhor eu me misturar
aos mortos e fingir que estou morta, né?” Esse comentário dilacerou meu
coração! Fiquei petrificada, mas os seus olhos atentos esperavam por minha
resposta. E tive que dizer: “Sim, é a melhor coisa que você faz!” Que triste
dizer isso, mas a solução parecia-me horrorosamente boa. Hoje já estão mais
velhas e a perda da ingenuidade ganha nova dimensão. Incomodam-se com as
injustiças sociais, com o mundo corporativo, com a ganância dos políticos, com a
desumanização da sociedade, com a falta de confiança nas pessoas. Dói nelas e dói
em mim. Dizia Thomas Hobbes: “O homem é
lobo do próprio homem.” Dizia um professor meu: “O lobo não tem nada a ver
com isso!” Que acordemos e consigamos manter por mais tempo a inocência de
nossos filhos. Façamos a nossa parte.
Exatamente Frô. E ainda fica pior para nós que educamos nossos filhos para serem cidadãos, no momento de entender que o mundo lá fora não é o que ensinamos à eles é bem difícil de explicar. Continuemos fazendo a nossa parte, colocando as conchas de volta para o mar.....
ResponderExcluirPatricia Pinho, difícil mesmo viver num mundo avesso ao que gostaríamos que fosse. Eu sempre disse às minhas filhas: não tenham medo de nadar contra a maré. Mas que não é fácil, isso não é. beijjo grande grande
ExcluirIncrível o texto. Belíssima análise! Perder essa ingenuidade faz com que precisemos de ainda mais fôlego para continuarmos sendo cisnes negros. E como é facil adquirir penas brancas ao longo do tempo. A questão é: qual dos dois se quer ser? E quanto se está disposto a seguir sendo?
ResponderExcluirVerdade Gabriela Pacheco. Muito fácil sermos engolidos pela sociedade. Ir na contramão de um trio elétrico é para poucos. Ufa! Haja fôlego, força, determinação e sonho por uma sociedade mais justa, mais humana e mais fraterna. Vamos que vamos. Amo você demais!
ExcluirMe entristece dizer isso, mas ser ingênuo nesse mundo de hoje é o mesmo que ser louco. Isso é uma dádiva dada só as crianças, a inocência é linda, mas tem um limite pra durar. Para os pais, alimentar a ingenuidade hoje está cada dia mais difícil; com tantas notícias ruins diárias que rondam o mundo virtual qual as crianças tem tanto acesso. Cabe aos pais mostrar-lhes a realidade com cuidado para não cegar-lhes. E vamos vivendo confiando na misericórdia de Deus e na contaminação da cada dia mais rara bondade de alguns. Bj grande. Ótimo texto para reflexão.
ResponderExcluirP.S.: Hoje recebi uma frase que combina com a minha esperança de um mundo melhor:
"Enquanto houver alguém que acredite em uma idéia, a idéia viverá"
José Ortega Y Gasset
Isso mesmo Patricia Valeria Gomes, infelizmente temos que acabar com a ingenuidade. E com certeza, manter a esperança. Ouvi ontem um comentário interessante.A esperança não é para amanhã. A esperança é este instante, é agora. Isso mesmo... construamos nossa esperança agora. beijo grande
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