Na última postagem do ano da minha coluna na Revista Pais & Filhos http://paisefilhos.com.br/blogs-e-colunistas/de-olho-no-cotidiano/seu-filho-no-mar-de-possibilidade,
contei uma mesma situação retirada do cotidiano entre pais e filhos, mas com a
mediação de duas mães diferentes, chamando a atenção para as consequências de
nossa ação em relação ao desenvolvimento da criança e de seu futuro adulto.
Vale a pena conferir. Mas, nesta última coluna do ano, aqui no FILHOsofar,
quero ressaltar o quanto o conhecimento que temos de cada fase da criança nos
ajuda a “entrar em seu mundo” e fazer bom uso dele em prol do desenvolvimento
da criança ou de apenas interagir melhor com ela. Conto o que me aconteceu.
Estava em minha caminhada matinal, que acontece na beira do mar sempre que possível.
Planejava mentalmente minha aula da noite, enquanto respirava profundo aquele
ar e distraía-me com as crianças brincando no mar. Ando tão saudosa delas que
não as perco de vista. No meio da caminhada, encontro uma criança de cerca de 3
anos, com uma Barbie-sereia nas mãos. Olhava para o mar e conversava sem parar.
Olhei ao redor e não havia ninguém que com ela estivesse falando. Não aguentei,
parei e perguntei:
-
“Você está conversando com a sua boneca?”
Sem hesitar e toda segura de si, como costumam ser as crianças desta
idade, disse:
-
“Não, estou conversando com o mar.”
Entrei em seu mundo encantado, pois sei que com esta idade o
desenvolvimento de seu sistema nervoso não permite ainda que distingua bem a fantasia
da realidade, tem um pensamento muito mágico, sei que ainda está construindo
como funciona o mundo e que fala muito sozinha como estratégia natural para
melhorar a linguagem e a organização de seu mundo interno construído a partir
de suas já tantas experiências.
-
“E o mar te responde?”, perguntei curiosa.
-
“Sim! Ele conversa com a gente.”, disse toda
sabida.
-
“Você me ensina a falar com o mar?”, perguntei
com interesse.
- “É fácil! Você pode falar normal mesmo, do
jeito que a gente fala, que ele entende.”, ensinou-me sentindo-se toda importante.
Então, postei-me ao lado dela e disse ao mar:
-
“Mar, você pode mandar uma onda molhar os meus
pés?”
E no mesmo instante, veio uma onda e molhou os nossos pés. A menina
olhou para mim com ar de satisfação e disse:
-
“Não falei que ele entendia?”
Comemoramos e agradeci o ensinamento. E, antes que a mãe aparecesse preocupada, disse-lhe:
-
“Vou continuar a minha caminhada, só que agora
eu vou conversando com o mar.”
Ganhei outro sorriso, um beijo solto pelo ar, um aceno de mãos delicioso
e saí feliz com tamanha fofura.
Isto o que quero ressaltar: Como é gostoso e gratificante interagir com
a criança compreendendo o que se pode esperar dela, qual a melhor maneira de conversar,
como podemos facilitar para gerar desenvolvimentos, o que vale ensinar neste ou
naquele momento, como se encantar e como encantá-la e, especialmente, como
aprender com ela. Vale muito a pena conhecer melhor a criança, seus processos e
suas possibilidades, para ter ações mais assertivas.
Desejo a você, boas festas, uma feliz entrada em 2018, momentos
incríveis com seu(s) filho(s) neste periodo de férias e que você possa se
deliciar cada vez mais com o encantado e encantador mundo da criança, que nos
faz, inclusive lembrar como éramos. Agora me dá licença que vou lá conversar
com o mar. Feliz férias!
Ps: Em Janeiro, dedicarei-me às crianças com determinados transtornos,
seus desenvolvimentos e como podemos agir para ajudá-las. E seguirá a linha de
que o conhecimento amplia as nossas percepções e as possibilidades de ações.
Até lá! Boas férias!