Sofia e seus pais, Andreia e Pedro Bittencourt. |
O autista tem o cérebro hiperexcitado. O que isso significa? O cérebro da
maioria de nós faz uma atividade de cada vez. Toda vez que fazemos uma nova
atividade, desligamos a atividade anterior. E quando escuto música e estudo,
por exemplo? Também. Você estuda e ouve e estuda e ouve. É tão rápido que nem
percebe que faz uma atividade por vez. O autista, por ter o cérebro
hiperexcitado, liga uma nova atividade sem desligar a anterior. Isto significa
que ao longo do dia ele vai fazendo centenas de atividade ao mesmo tempo. Já
pensou como deve ser difícil! Mas, ele cria um método para se organizar neste
mundo de estímulos e agir de forma adequada. Quando se vê neles um padrão de
movimentos repetitivos, acentuadas rotinas e rituais, perceba que é um cérebro
querendo se organizar. Se bloqueamos o movimento repetitivo, ou os tiramos da
rotina, eles se vêem no mundo de estímulos, entram em crise e se desorganizam. O
cérebro dele é assim e por isso não é possível querer que funcione como o
nosso.
Pedi a Andreia Pereira, mãe de uma criança autista, que nos contasse
brevemente um pouco da filha e que desse-nos dicas para atuarmos melhor com o
autista. E agora, é com ela.
“Sofia estava no jardim 2, quando fomos chamados para uma conversa com a
psicóloga e a coordenadora. Falaram-nos de forma suave, as observações que
haviam feito, no mês de fevereiro. Disseram que ela tinha atraso de linguagem,
dificuldades na comunicação e interação, sempre buscava brincar só e
enfileirando objetos e quando era chamada não olhava, entre outras. Nos
mandaram procurar uma neurologista, fiquei muito preocupada e logo estava numa
consulta, e foi diagnosticado o autismo. Perdi meu chão nessa hora, sem saber o
que nos esperava, e com um luto profundo no peito. Mas não poderíamos perder
mais tempo com a tristeza, tínhamos que correr contra o tempo e seguir, e de
acordo com as orientações da neuro, fomos em busca do tratamento terapêutico
com fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, pscomotricidade relacional e não
demorou muito para começar também a análise aplicada do comportamento, na qual
Sofia permanece até então. E vem apresentando evoluções significativas. E essa
virou nossa rotina diária, nas manhãs tem as terapias e a tarde escola. Fim de
semana é mais tranqüilo, a levamos para um parque ou shopping, ou cinema
(pouco), ou praia que ela ama. Porém, temos enfrentado olhares turvos e às
vezes até escutamos absurdos das pessoas por total falta de
conhecimento/ignorância e preconceito, por presenciarem a criança aos gritos ou
com birras, por não estar gostando do lugar, ou por estar muito barulho e muita
gente, ou estar sentindo alguma dor sem saber expressar o que esteja sentindo.
Enfim, pode ser inúmeras situações. Nesse momento a única coisa que eles querem
são os pais, que sabem o contexto da história deles, e saberão o que fazer.
Para ajudar uma pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista), as
pessoas só precisam;
Ø
Ter empatia, tente se colocar no lugar
de uma pessoa que não sabe se expressar, não porque não quer, mas por causa da
síndrome.
Ø
Como a maioria não suporta barulho, por
distúrbio sensorial auditivo ou por simplesmente não gostarem, então se puder
baixe o tom da voz ou volume do som musical.
Ø
Paciência, uma das principais ajudas
que qualquer pessoa possa dar e ter. Às vezes você precisa ensinar mais de uma,
duas ou três vezes, para essa pessoa aprender.
Ø
Demonstre alegria e paz, pois eles
sentem, como a pessoa está naquele momento.
Ø
Faça um teste em casa, não use
comunicação de nenhuma forma, e vende os olhos, se sinta e reflita, como é a
dificuldade alheia.
Sofia vem me apresentando um mundo, que
eu desconhecia, com todos os detalhes, e diariamente me ensina que todos nós
somos diferentes, mas com o mesmo ideal: vivermos felizes e sermos melhor no
que escolhemos seguir. Damos mais valor a vida juntas e com amor, superamos
tudo.”
Grata Andreia pelos
ensinamentos. Grata Sofia por nos possibilitar sermos mais humanos.