11 de abr. de 2017

198. Conhecer para melhor agir: AUTISMO.

Sofia e seus pais, Andreia e Pedro Bittencourt.
O autista tem o cérebro hiperexcitado. O que isso significa? O cérebro da maioria de nós faz uma atividade de cada vez. Toda vez que fazemos uma nova atividade, desligamos a atividade anterior. E quando escuto música e estudo, por exemplo? Também. Você estuda e ouve e estuda e ouve. É tão rápido que nem percebe que faz uma atividade por vez. O autista, por ter o cérebro hiperexcitado, liga uma nova atividade sem desligar a anterior. Isto significa que ao longo do dia ele vai fazendo centenas de atividade ao mesmo tempo. Já pensou como deve ser difícil! Mas, ele cria um método para se organizar neste mundo de estímulos e agir de forma adequada. Quando se vê neles um padrão de movimentos repetitivos, acentuadas rotinas e rituais, perceba que é um cérebro querendo se organizar. Se bloqueamos o movimento repetitivo, ou os tiramos da rotina, eles se vêem no mundo de estímulos, entram em crise e se desorganizam. O cérebro dele é assim e por isso não é possível querer que funcione como o nosso.
Pedi a Andreia Pereira, mãe de uma criança autista, que nos contasse brevemente um pouco da filha e que desse-nos dicas para atuarmos melhor com o autista. E agora, é com ela.

“Sofia estava no jardim 2, quando fomos chamados para uma conversa com a psicóloga e a coordenadora. Falaram-nos de forma suave, as observações que haviam feito, no mês de fevereiro. Disseram que ela tinha atraso de linguagem, dificuldades na comunicação e interação, sempre buscava brincar só e enfileirando objetos e quando era chamada não olhava, entre outras. Nos mandaram procurar uma neurologista, fiquei muito preocupada e logo estava numa consulta, e foi diagnosticado o autismo. Perdi meu chão nessa hora, sem saber o que nos esperava, e com um luto profundo no peito. Mas não poderíamos perder mais tempo com a tristeza, tínhamos que correr contra o tempo e seguir, e de acordo com as orientações da neuro, fomos em busca do tratamento terapêutico com fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, pscomotricidade relacional e não demorou muito para começar também a análise aplicada do comportamento, na qual Sofia permanece até então. E vem apresentando evoluções significativas. E essa virou nossa rotina diária, nas manhãs tem as terapias e a tarde escola. Fim de semana é mais tranqüilo, a levamos para um parque ou shopping, ou cinema (pouco), ou praia que ela ama. Porém, temos enfrentado olhares turvos e às vezes até escutamos absurdos das pessoas por total falta de conhecimento/ignorância e preconceito, por presenciarem a criança aos gritos ou com birras, por não estar gostando do lugar, ou por estar muito barulho e muita gente, ou estar sentindo alguma dor sem saber expressar o que esteja sentindo. Enfim, pode ser inúmeras situações. Nesse momento a única coisa que eles querem são os pais, que sabem o contexto da história deles, e saberão o que fazer.
Para ajudar uma pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista), as pessoas só precisam;
Ø  Ter empatia, tente se colocar no lugar de uma pessoa que não sabe se expressar, não porque não quer, mas por causa da síndrome.
Ø  Como a maioria não suporta barulho, por distúrbio sensorial auditivo ou por simplesmente não gostarem, então se puder baixe o tom da voz ou volume do som musical.
Ø  Paciência, uma das principais ajudas que qualquer pessoa possa dar e ter. Às vezes você precisa ensinar mais de uma, duas ou três vezes, para essa pessoa aprender.
Ø  Demonstre alegria e paz, pois eles sentem, como a pessoa está naquele momento.
Ø  Faça um teste em casa, não use comunicação de nenhuma forma, e vende os olhos, se sinta e reflita, como é a dificuldade alheia.

Sofia vem me apresentando um mundo, que eu desconhecia, com todos os detalhes, e diariamente me ensina que todos nós somos diferentes, mas com o mesmo ideal: vivermos felizes e sermos melhor no que escolhemos seguir. Damos mais valor a vida juntas e com amor, superamos tudo.”


Grata Andreia pelos ensinamentos. Grata Sofia por nos possibilitar sermos mais humanos.

1 de abr. de 2017

197. VOCÊ VASCULHA A VIDA DO SEU FILHO?

Muitos aconselham aos pais a vasculharem a vida do filho para saberem por onde anda, com quem anda, o que fala, o que posta, enfim. Observar e controlar o filho para de certa forma protegê-lo. E muitos, na surdina, vasculham mochilas, gavetas, diários, mensagens. E encontram esperadamente, o inesperado. Claro! Ao procurar o escondido, sem perceber, ensina-se que é preciso esconder. Este tipo de ação nem protege, nem é efetiva e ainda é destrutiva, pois não é relação de confiança, a única que funciona. Não devemos controlar os filhos, mas ensiná-los, dia a dia, a bem cuidarem de si na própria vida. E precisam de muito apoio para desenvolverem a personalidade, os valores, os princípios, para enfrentarem os medos, as dúvidas, os desafios. Não é de controle ou que os vasculhemos o que precisam! Quando os filhos confiam e encontram em nós apoio e orientação, eles se abrem. Mostram as mensagens que os inquietam. Pedem conselho de como agir nas situações conflitantes. Contam as maravilhas e os “podres” dos amigos, das baladas, das aulas, de si. Perguntam sobre sexo, drogas, o que for. Mas para isso, é preciso saber ouvir sem julgamento, ter cautela com a reação, ajudar a pensar junto (não pensar por ele), aproximar-se dos amigos com abertura, ser legal sem deixar de ser pai/mãe, não ser subserviente, participar com interesse e responsabilidade. Pois, conhecer o filho em vida e ajudá-lo a melhorar nela é melhor que vasculhá-lo e gerar farsa e aborrecimento. Invista na confiança, na relação de vocês e deixe os olhos da alma sorrirem descontroladamente.