No princípio era eu com meus sonhos, desejos, valores. Depois, virei
nós com laços matrimoniais e vi que também era bom. E então, viramos três e
percebi que ser mãe era algo mágico e de grande responsabilidade. E logo,
viramos quatro e notei que ter a própria família era deliciosamente bom.
Mas também me dei conta de que o “eu” do princípio já não existia mais.
Mudei hábitos, gostos, valores e os planejamentos de vida eram pensados para
mim e para além de mim. A vida passava a ser com-partilhada. Já não tinha a
independência e a liberdade de outrora, mas pesando na balança era notório que
valia a pena.
E a vida correu e nós crescemos e amadurecemos sempre em busca de
harmonia. Crises, desentendimentos, dificuldades, dúvidas também tivemos. Mas,
sobrevivemos, fortalecendo sempre os laços fundados no respeito, no diálogo, no
compromisso e na construção do amor de um para com o outro.
Por muitas vezes, abri mão de mim, afetando minha vida pessoal e
profissional. Nem sempre foi fácil esta escolha, mas eu a fiz de forma
consciente e por isso, sem cobranças. Outras tantas vezes, percebi que educar
os filhos era um educar-se constante. E, que para (trans)formar um ser era
preciso tempo, dedicação, quantidade e qualidade de princípios, conhecimentos e
ações num dia que só tem 24 hs. Também notei que não bastava o coração. Era
ainda preciso o estômago, pulmão, músculos, cérebro, coluna, corpo e alma por inteiro.
E, ainda reunir, para além da própria profissão, todos os diplomas em um só
ser: administradora, contadora, médica, enfermeira, dentista, professora,
psicóloga, motorista, nutricionista, cozinheira, faxineira, engenheira,
advogada, malabarista, animadora, ninja, entre tantos outras. Tudo isso virei
ao ser mãe. Nada tranquilo, mas viva a potencialização do ser.
E num piscar de olhos as meninas cresceram, ampliaram seus recursos e
bagagens, fortaleceram as asas e voam cada dia mais alto. O ninho vazio bate a
porta, mas os laços continuam firmes. O coração e mente estremecem, mas dá
muito orgulho, prazer e felicidade apreciar seus desenvolvimentos. Mais uma
etapa, mais uma nova aprendizagem. E vi que ser mãe é uma construção sem fim, deliciosamente
humana. E, que transforma o “eu” em “nós” para sempre, por mais que os filhos
comecem a própria história de que no princípio era eu com meus sonhos, desejos,
valores...