Temos uma mania irreparável de achar que as outras pessoas percebem o
mundo, os outros e a si mesmo, do mesmo modo que nós. Não é de se estranhar os
tantos problemas de relações que presenciamos. Nietzsche dizia que tudo é
interpretação. E é vero. Pois, o que cada um percebe, sente, constrói, fala,
pensa, age, o faz de acordo com o que já possui dentro de si. Interagimos com o
mundo e com os outros a partir do que somos e não da maneira como se apresentam
a nós. Perceber isso é fundamental para compreender e ajudar no progresso do
seu filho. Certa vez, alfabetizei uma empregada pelos livros de receita, sua
grande paixão. Mas, os bolos eram pesados e indigestos. Alguma coisa não havia
aprendido bem. Após uma breve investigação para encontrar o erro tive um
insight: Perguntei-lhe o que significava ¾ de xícara. Sem pestanejar ela disse:
3 ou 4 xícaras. Senti como se eu tivesse conseguido adentrar em sua cabeça e
detectado o que precisaria ser resignificado. Na aula seguinte estudamos
frações. No caso dos filhos é a mesma coisa. Vale observar, perguntar e buscar
perceber como ele está construindo a realidade, os outros e a si mesmo para
ajudá-lo a fazer os ajustes necessários. Mas é preciso atenção, pois há coisas
que já estão tão incorporadas em nós que nem notamos que há a possibilidade de
se perceber de modo diferente. Uma criança pequena ouviu a mãe dizer que faria
uma plástica, pois sua mama estava caída. A criança assustada logo perguntou:
“Caiu e você colocou de volta?”