Minha filha mais velha, aos 17, voltou para São Paulo,
onde cursará a faculdade. Não há como não ficar mexida, estranhar o
quarto vazio, o ninho grande, a mesa faltando um, o silêncio no ar. Não há como
se enganar e deixar de ver o óbvio: os filhos crescem. Já repeti várias vezes
por aí: educamos os filhos para o mundo. E assim fiz. Mas, agora que o mundo os
chama, posso notar que a teoria na prática é mais complicada e difícil.
No dia em que ela viajou senti uma dor muito forte no
corpo todo, parecida com a dor de parto, mas desta vez era dor do verbo partir.
Por um lado, sentia orgulho do seu desenvolvimento e ousadia. Por outro, não
continha o choro. Foi duro perceber que encerrava-se um ciclo, o qual eu estava
achando rápido e intenso demais! Quando os filhos nascem, suas vidas estão
literalmente em nossas mãos. E então vamos educando-os e os levando,
paulatinamente, a assumirem suas vidas. E foi esta a sensação que tive: como se
tivesse chegado a hora de passar o bastão. Mas já? Fiquei com esta inquietação
em mim: Estaria na hora? Não seria cedo demais? Seria saudável amadurecer tão
rápido! E impedir o amadurecimento?
Na TV passava um programa onde as crianças aos dez
anos já eram emancipadas. Aliviei-me um pouco. Compartilhei com amigos e amigas
minha angústia, mas fiquei ainda mais confusa. As mulheres ouviam e antecipavam
o sofrimento em drama: “Meu dia chegará!” Os homens, em sua maioria, achavam
tudo uma maravilha e uma oportunidade muito rica. Queria pensar como eles, mas
não há como. Eles não conhecem a magia, a completude e a transformação do ser,
para sempre, quando se gera um filho dentro de si. É uma relação muito amalgamada!
Além disso, o filho sai da barriga, mas nunca mais sai da cabeça.
Voltava o pensamento à minha filha, que me disse antes
de embarcar: “Não será fácil deixar tudo isso, mas estou com muita sede de
amadurecimento!” Que vontade egoísta que me deu de colocá-la no colo e não
soltar mais. Foi quando me dei conta do que eu fazia com meus alunos
universitários e que agora ela era uma. A cada nova turma eu proporcionava
vivências para que os alunos se percebessem sujeitos do conhecimento e autores
da própria vida, assumindo-a com responsabilidade e autonomia entre outros
tantos saberes. Ela também sabia disso, mas apreciar o voo do filho alheio
parecia mais fácil! Até que ouvi de uma mãe cujo filho tem 40 anos: “Agora ele
está bem mais independente e dono de si.” E pensei: Que mania temos de
achar que os filhos nunca crescem! Não, não seria este o meu desejo.
Voe minha filha, voe. Nem tão alto para não derreter
as asas ao sol e nem tão baixo para não molhá-las ao mar. Voe minha filha e
saiba que aqui tens um porto seguro para te apoiar, te orientar, te fortalecer,
te dar descanso e te amar, por toda a vida. E, se sentir saudade, alegre-se:
Sinal de que valeu a pena, que ficou com boas marcas e que foi bom demais.
Uma dica? Dê uma boa base ao seu filho, viva intensamente
cada momento, prepare-se e o prepare para voar. E, lembre-se: asas grudadas não
voam. Deixemos, então, voar.